Quando
Fernando de Saxe-Coburgo chegou a Portugal para casar com a rainha D. Maria II,
não gostou de ver o desprezo que o governo nacional votava aos monumentos do
país, muitos deles abandonados devido ao decretado fim das ordens religiosas.
Foi o caso do mosteiro da Batalha que, dizem as más línguas, esteve a ponto de
ser desmantelado para venda da sua pedra. A este príncipe austríaco se deve assim
o restauro, aos nossos olhos actuais desastrado, daquele belo monumento. Destruiu-se
o barroco, o maneirista e o tecido urbano envolvente, mas preservou-se o gótico
e o manuelino tão ao gosto romântico da época. Foi o nosso primeiro restauro
monumental oficial. Por essa época Vítor Hugo chamava à razão as autoridades de
Paris pelo estado deplorável da igreja de Notre Dame, uma das mais belas
igrejas góticas (das que conheço a mais bela), promovendo o interesse dos
franceses para o seu restauro, depois de prostitutas terem dançado sobre os
seus altares. Muito antes destes acontecimentos, Lord Elgin, numa leitura
talvez abusiva da autorização dada pelo sultão de Constantinopla, levou grande parte
dos frisos do Partenon para Londres e, por essa razão, estão hoje no museu
britânico. A Grécia, mais tarde independente dos turcos, não gostou.
Vem isto a propósito de um convite
feito por um amigo para assinar uma petição exigindo o retorno a Atenas dos
frisos. Confesso que hesitei em fazê-lo. São magníficos e compreende-se que os
herdeiros o queiram de volta. São uma das razões que me obrigam a voltar a
Londres para os ver com redobrada atenção. A sua fruição, a par de outras belas
e magníficas peças, é gratuita: o governo de Sua Majestade teve o bom senso de
proporcionar gratuitamente a fruição de todo o espólio “roubado”. E roubaram
porque foram talvez os primeiros a perceber da sua importância. Importámo-nos
com a Batalha antes de Fernando, um germânico romântico, a ver e admirar?
O Partenon, templo pagão, foi igreja
cristã, sofreu tratos de polé dos bizantinos e depois os turcos fizeram nele
uma mesquita e erigiram um minarete, respeitando-lhe as paredes, até que se
lembraram de o transformar em paiol de munições, que um canhão veneziano, com
grande pontaria, fez ir pelos ares, juntamente com o telhado, meia dúzia de
colunas e umas poucas de estátuas. O “roubo” dos frisos foi assim um furto a
quem não lhes dava importância.
O abuso de lord Elgin não foi, ao
tempo, criticado senão pelos próprios ingleses, desde logo por Byron que, não
obstante, achou Sintra mal empregada para portugueses. Se eu fosse inglês
recusaria a entrega dos famosos mármores. Se fosse grego exigiria a sua
restituição. Julgo que ingleses e gregos são suficientemente adultos e
inteligentes para encontrarem uma solução a contento, e estando os mármores à
disposição de quantos os queiram apreciar, não vejo porque tenha que assinar
petições a dar lições a gregos e ingleses.
E acabo como comecei: ao nosso
Fernando, quando viúvo da rainha, ofereceram os gregos o trono da Grécia.
Recusou!
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