domingo, 31 de março de 2013

MONÓLOGOS DE GIOCONDA - FINAL

 
 

Parte IV
-       Hoje não me pede para baixar o decote?... Estou a falar consigo… Que diz? Já acabou?... Olhe para mim! Eu baixo… Assim… Está bem?... Não vale a pena? … Leonardo! Onde vai?
-       Mas… o que é isto? De onde vem esta gente toda? PAREM DE OLHAR… LEONARDO.
-       Um vidro! Agora põem-me um vidro à frente!... LEONARDO, TIRE-ME DAQUI… socorro Leonardo, tenho medo. Esta gente toda a olhar para mim assusta-me… Devem ser os tais japões, Leonardo. Tenho medo. Vá, tire-me daqui. Eu mostro tudo, eu baixo o decote, eu deixo que me pinte as mamas, mas tire-me daqui, vá…Leonardo…!?
-       Xô, xô. Vão olhar para outro lado. Xô. Ali, ali ao lado… Não vêm? Estão nuas. Tudo à mostra. Vão vê-las. Vá, despachem-se. Deixem-me em paz.
-       Psst, psst. Olhe, desculpe. Foi o Leonardo quem a pintou assim, sem roupa? Não?... Quem?... O Ticiano? Bem me queria parecer…
-       Pintor de paredes, é o que é… LEONARDO!... Eu mostro as mamas Leonardo, mas tire-me daqui… LEONARDO!


terça-feira, 26 de março de 2013

MONÓLOGOS DE GIOCONDA - PARTE III

 
 
-       Está muito calado, hoje… quer que fale eu? E de quê?... De como foi estar grávida? O que há para dizer? Acontece a todas as mulheres… ou a quase todas. Era bom, davam-me sempre prioridade no mercado.
-       Se eu ia muitas vezes ao mercado? Porquê?... Se não tenho criados? Claro, mas gosto de ir às compras… Se tinha receio? Claro que não. Ia sempre acompanhada de um jovem pajem… o quê? Tem ciúmes do pajem? Quem tem direito a ciúmes é Francesco não o Leonardo.
-       De novo?... Insiste que baixe o decote… Leonardo, que lhe fiz para se atirar a mim assim, descaradamente, faltando-me ao respeito… o quê? Este sorriso convidativo e sedutor que tenho? Mas eu detesto este sorriso de mosca morta… o quê? Porque o uso? Ora, se foi você que me obrigou a pô-lo…!
-       Aborreço-me aqui, e pede-me para estar quieta. Que quer? Tenho comichão… onde? No nariz. Posso coçar?... Não? Quieta, calada e com um sorriso maroto… o vosso ideal de mulher, não é? E eu cheia de comichão…
-        E o quadro quando acaba?... Está quase? Deixe-me ver. Deixe, deixe, deixe.
-       Uhm. Vire-o para ali… O que quer? Dá-lhe a luz em cima e vejo mal… uhm, uhm… Está mal!... O que digo? Está mal. Uma porcaria. Bem me dizia a outra que era um pintor de paredes… ofendo-o? Pois se o quadro está mal… onde? Não deu pelo erro? O horizonte… o horizonte está mal. Está mais alto do lado direito do que do esquerdo… é de propósito?... Por causa do lado feminino e masculino?... porquê? Tem dúvidas?... Enganou-se foi o que foi. Agora dá desculpas.
-       Tenho os olhos inchados.
-       Porque não dormi? Não sou eu: é o quadro. Está com os olhos inchados…o quê? Há fumo? Onde?... ah, usou a técnica sfumato? E isso é que me põe os olhos inchados?... Agora é da técnica sfumato. Tenho os olhos inchados, é o que é.
-       Tenho comichão… Se baixasse o decote e subisse o peito, ficava melhor? E que tem isso a ver com a comichão?... Olhe, sabe o que digo? Pinte-se a si… Onde vou? Estou cheia de comichão e coço-me. Adeusinho.
(continua...)


domingo, 24 de março de 2013

SANTOS E POLÍTICOS

 
 
Certo dia, por volta da hora do almoço, bati à porta do convento do Varatojo: precisava de tratar de coisas relacionadas com música e casamentos. Bater é uma força de expressão, na verdade puxei uma corda que fez soar a campainha.
A porta demorou a abrir. Os conventos são rigorosos com as horas: das matinas às completas são quase sempre horas de rezar, mas também de comer e todas são sagradas, por isso julgo que haverá hora de abrir portas e eu tive de esperar por ela.
          Abriram-me a porta dois amáveis frades, amáveis mas assertivos, de corpos cilindricos cobertos da túnica franciscana que deixava ver os pés metidos nas sandálias. Em terra desabituada de frades desde António Joaquim de Aguiar, pareceram-me figuras de banda desenhada.
          Por saber que o noivo era da Vermelha calhei em falar-lhes de São Luís, patrono daquela freguesia: falar de santos a frades deve ser simpático, pensava eu na vontade de querer conquistar-lhes a simpatia para o que vinha. Engano meu: um dos frades quase chispou ao ouvir o nome do rei cruzado. Bandido, assassino, de tudo o insultou o frade para grande admiração minha que pensava que um católico, qualquer católico e ainda para mais frade e franciscano, deve amar todos os santos da sua Igreja, mas o frade sabia que não é por muito lavar as feridas dos pobres que se limpa a alma dos pecados, e o rei Luís de França tinha-os de sobra.
Infelizmente tenho amigos sem o espírito crítico daquele bom frade, e em tratando-se dos ícones do seu partido correm a incensarem a presunção de santidade, só porque atravessaram o deserto em boulevards mundanos.
Isto de misturar religiões com partidos tem que se lhe diga, mas por vezes as devoções partidárias confundem-se com as religiosas. Eu, por exemplo, consigo perceber a diferença entre um católico e um luterano, mas entre um baptista e um metodista precisaria de um estofo intelectual que não possuo. Quanto aos partidos é o mesmo. Se calho conversar com amigos do CDS, confundo tudo e julgo estar a ouvir um velho militante socialista, quase a tombar para a esquerda revolucionária. Se oiço um amigo socialista julgo entender que me fala da doutrina social da Igreja. Depois de muito esforço percebo que a única diferença que separa um socialista de um democrata cristão é o casamento homossexual, o aborto e a eutanásia, apesar de em qualquer deles encontrar devotos praticantes desses temas. Quanto aos meus amigos sociais-democratas fazem-me lembrar velhos miguelistas a jurar a carta constitucional. Ou seja, é tudo uma questão de costumes. Nada de muito profundo que não se cure com o tempo.
Não pensem que não tenho amigos no bloco. Tenho alguns. São simpáticos, iguais aos outros todos, mas vivem atormentados por não terem coragem para abandonar os privilégios com que vivem e por isso parecem diferentes, fazendo lembrar os cruzados (porque fui falar no São Luís?).
E os comunistas? perguntam-me e eu respondo: os comunistas sabem escolher os amigos e mais não digo.
Vem isto a propósito de um filho pródigo (já que comecei com religião acabo com ela), que regressa agora a casa e quer por força pregar o seu sermão. Os meus amigos não socialistas começaram já a atirar-lhe pedras, e os meus amigos socialistas querem elevá-lo aos altares. E eu? Sabendo que a criatura seria atirada na enxovia de uma prisão se conseguissem provar só um terço dos crimes de que lhe acusam, gostaria somente que a justiça actuasse: para o condenar ou absolver.
Aos que atiram pedras, lembro o velho adágio dos telhados de vidro. Aos que queimam incenso e acendem velas à frente da pantalha, lembro que um filho pródigo só o é depois de verdadeiramente arrependido. Peço-lhes que se lembrem daquele frade do Varatojo com que comecei a história, e de São Luís que também foi governante e político. É que o homem pode não ser nenhum criminoso mas santo é que não é: O cheiro do enxofre que traz dos encontros com o mafarrico empesta os ares.


sábado, 23 de março de 2013

MONÓLOGOS DE GIOCONDA - PARTE II

 
 

Parte II
-       Só voltei porque Francesco faz muita questão no retrato, mas não comece com coisas, senão zango-me.
-       O vestido? Outra vez? O que foi agora?... Uma nódoa!? Onde? Ah. Ora vejam. Não a vai pintar, pois não?... Há nódoas em vestidos que ficarão famosas?... Talvez, mas não esta. Deve ter sido ontem, no jantar. Entornei a ribollita… O que quer?... Sopa de pobre, claro. Já não estamos no tempo dos Médici…. É a crise...
-        Fomos convidados… ainda aparentados com os Médici, apesar de servirem ribollita… pelo menos é o que dizem. O Francesco diz que nos pagam em jantares o que nos devem nas sedas… Porque fomos? Ora, o Francesco deve-lhes favores e esquece a dívida.
-       O que diz?... Se o Francesco não lhe pagar leva o quadro?... Emigro! Já vi que continua zangado… vai oferecer o quadro ao seu amiguinho Sforza. Não tem pena de mim? De me expor assim naquele castelo monstruoso em Milão?... Como sei se nunca lá fui? Falámos nisso, ontem ao jantar. Que é enorme, feio e sem graça. Que não passa de uma enorme fortaleza.
-       Vai oferecê-lo ao rei de França? Exposta em Paris… Em Fontainebleau? Menos mal… ou no Louvre? À viva força me quer presa em fortalezas!
-       Hão-de vir de onde a ver-me?... Do Japão? Onde fica isso?... No meio do mar?... Depois da China! Nunca ouvi falar e o Leonardo delira. Como é que hão-de vir daí a ver-me se nunca de cá os vimos?... Foi uma visão que teve!? Bem me avisaram para tomar cuidado. Dizem que o Leonardo é realmente um visionário e só tem tonterias na cabeça.
-       O favor que o Francesco deve? Olhe, precisamente por causa da China. Apareceu aí um que quis abrir uma loja. Aqui, em Florença, imagine. Vendia sedas mais baratas, dizia ele. O Francesco zangou-se e conseguiu que corressem com ele… Que diz?... Não será por muito tempo? Veremos…
-       Por falar em terras distantes, ouvi falar que descobriram o Brasil… Onde? Para lá do oceano… América? Não, mais para Sul… não, o Francesco não tem sorte nenhuma. Não é nenhuma oportunidade de negócios. Dizem que andam nus, ninguém lhe comprará a seda… Disse nus, sim. Sem roupa.
-       Também gostava?... O QUÊ? Pintar-me nua?! LEONARDO…
(continua...)


sexta-feira, 22 de março de 2013

MONÓLOGOS DE GIOCONDA - PARTE I

A partir de hoje, publicarei em 4 partes os monólogos de Gioconda. Monólogos descobertos a partir das mais sofisticadas técnicas usadas sobre a famosa pintura de da Vinci.
 


Parte I:
 -       Está bem assim?... Pronto, já pus a mão esquerda sobre a direita… Ao contrário? Podia ter dito logo, tenho de me virar… Porquê? Para apoiar o esquerdo sobre o braço da cadeira... Já está.
-       O vestido? Que tem? Levei-o ao baile do governador. É o melhor que tenho… da melhor seda… disse governador, não Lorenzo… Ofende-me, Leonardo. Não sou tão velha. Era uma menina no tempo dos bailes de Lorenzo.
-       O véu? Que tem?... Quer que tire? Francesco matava-me! Não sabe que fui mãe? Por isso é que me pinta!
-       Pintor de paredes…
- O quê? Desculpe, pensava alto… o que eu disse? Pintor de paredes. Foi o que a mulher do governador lhe chamou quando contei que Francesco lhe encomendara o retrato… Então? Ofendeu-se! Então não sabe como ela é? Desde que o marido é governador diz a toda a gente que descende dos Médici… tontices! Vá, pegue lá no pincel. Aposto que a parede ficou linda, pronto! Vá, não faça beicinho.
-       Se eu já fui a Milão? Fazer?!... Ver a parede? Leonardo, não diz coisa com coisa. Que parede?... Ah, a que pintou? E o que foi? Mulheres nuas, aposto… É num convento? Então foram anjos… acertei? Não? Você acha que estou interessada no que pinta nas paredes?... Milão? Não, não fui. Aquilo não é sítio para uma mulher de respeito. Se não é o rei da França é o Sforza, se não é o Sforza são os suíços… nunca se sabe quem lá está. Não, temo bem que não verei a sua parede.
-       Desculpe. Disse alguma coisa? É que me aborreço e dormitei… O vestido? O que tem? Já disse que é o melhor que tenho, e da melhor seda. Não é por me gabar, mas Francesco guarda sempre as melhores sedas para mim… O quê? Quer o quê?... Que puxe o decote mais para baixo?... Não vê o quê?... O contorno? Olhe, sabe que mais, fartei-me. Vou-me embora, e escusa de esperar por mim amanhã.


domingo, 17 de março de 2013

ESCÂNDALO

 
 
 
O que está a acontecer em Chipre só tem um nome: ROUBO. E não vou agora perorar sobre questões ideológicas ou comparações com a nossa situação e a da Grécia, ou o facto de Chipre ter sido governado nos últimos cinco anos até ao fim do mês de Fevereiro pelo partido comunista. Basta dizer que é um roubo e que esse roubo é um escândalo.
 Um escândalo porque não é feito por qualquer quadrilha de malfeitores, por potências não europeias ou pelo famigerado FMI. É feito pela Europa, mais concretamente pelos ministros da zona euro.
Os ministros da zona euro, além de sancionarem um roubo, esquecem que a Europa fez-se para se livrar dos conflitos e guerras do passado entre os seus povos e nações. Talvez refrescasse a memória dessas luminárias se os cipriotas exigissem a integração na República Turca de Chipre do Norte.
Se os ministros da zona euro tiveram a desfaçatez de atravessar a fronteira do bom senso porque não hão-de os cipriotas gregos passarem a turcos?
E nós que estejamos atentos. Se os cipriotas são poucos isso pode muito bem significar que estejam a ser usados como laboratório de novas medidas.
 
(na imagem: os ministros da zona euro)


quinta-feira, 14 de março de 2013

QUANDO AS GAIVOTAS POISAM

 


No meio de protestos, a favor e contra, foram as gaivotas da Argentina condenadas à morte ou, em alternativa, à esterilização, pelo crime nefando de ataque a baleias indefesas contra bombardeamentos aéreos. Tudo porque as gaivotas atacam do alto e à vista de todos, não seguindo o exemplo das baleias que devoram, no segredo das profundezas dos oceanos, milhares e milhares de sardinhas, numa orgia de romaria em noite de Santo António. Fosse ao contrário, as sardinhas comerem baleias, e não seria tão mau, como já pregava o padre António Vieira: uma baleia saciaria muitas sardinhas, ensinava o bom do jesuíta.
Também por cá vimos tomadas de posição idênticas, quando defensores dos répteis levantaram brado contra as aves marinhas por estas atacarem aqueles rastejantes antes que alcançassem buraco salvador. No mundo animal, como nos homens, anda a Justiça do lado dos grandes e dos que rastejam. As pobres e populares sardinhas, ou as aves que gritam liberdade não têm quem as defenda.
Talvez por isso uma gaivota tenha ido sobrevoar o centro do mundo indo poisar numa minúscula e singela chaminé. Do alto do tubo, altiva e serena, olhou o povo que vigiava o céu na esperança de ver, por ténue que fosse, o esvoaçar de uma pomba. Desconhece a plebe inculta que o Espírito toma a forma que lhe convém e entre a pomba do Jordão, o corvo de Noé, a águia de Zeus ou o cisne de Leda, há todo um catálogo ornitológico por onde escolher.
Em tempo de falcões a pomba pareceria desajustada e cisnes apreciam águas paradas e langores eróticos. Uma gaivota, pensou então, com o seu bico recurvo e aguçado, capaz de atacar baleias e devorar répteis, com desprezo por gaiolas douradas, rasando o alteroso oceano para prover ao sustento, e mediando entre o Céu e a Terra entoando gritos de liberdade, seria a metáfora ideal. E as suas irmãs argentinas voaram em círculo, orgulhosas daquela gaivota que poisara sobre o capelo da chaminé na capela mais famosa do centro do mundo.
          E fez bem: quando um traço luminoso foi riscado no céu, mostrando que a irmã Lua, abandonava o orgulho de uma Nova para se deixar acariciar pelo irmão Sol que a irá emprenhar, a gaivota voou e logo se moveram baleias e répteis a protestar e a aviltar, receando o seu bico recurvo e afiado. Somos todos irmãos, disse Francisco, o protector dos animais; todos irmãos.
Pois está bem, pensou a gaivota, mas assim como assim, um bico recurvo e forte dá jeito para ensinar os caminhos da paz aos irmãos.


quarta-feira, 6 de março de 2013

EMIGREMOS

 
O povo saiu à rua para protestar sem conseguir que os habitantes de Belém saíssem do coma, o Papa bateu com a porta, a rainha inglesa (tia Belinha para os amigos) esteve doente, o Juan Carlos foi operado a uma hérnia e Hugo Chavez calou-se para sempre. É bem o sinal de que os Maias tinham razão e o mundo acabou mesmo, no passado mês de Dezembro e, como as ervas daninhas após a passagem do roundup ultra, só passado algum tempo começaremos a secar e a minguar de vez. Esta a razão porque não vejo que valha a pena aprofundar muito qualquer dos temas e me tenha entretido a ler os Diários da República. Podia dar-me para pior, eu sei.

Foi assim que há dias tomei conhecimento, através de um aviso assinado por um director de serviços com o poético sobrenome de Fins do Lago, que a república do Vanatu tinha aderido à convenção de Berna para a protecção das obras literárias e artísticas. Foi com grande satisfação que tomei conhecimento do facto e como ninguém é suficientemente ignorante quando tem a wikipedia por perto, é com profunda alegria que vos dou notícia desta república com nome tão simpático.

A alegria ficou logo ensombrada por o senhor Fins do Lago, ou alguém por ele, ter roubado uma vogal ao nome do convencionado país, que se chama Vanuatu e não Vanatu como escarrapacharam no Diário da República, isto num país onde se dá tanta importância a preposições e contracções. Razão teve o Presidente em se queixar deste periódico que está por um fio de se transformar num pasquim.

Vanuatu é um paradisíaco arquipélago logo ao lado da Austrália, com vista para o Pacífico. Colonizado por gente de mau gosto, foi-lhe dado o nome de Novas Hébridas, a lembrar geleiras do Norte, com total desprezo pelo seu descobridor, um tal Fernandes de Queirós, português ao serviço de Espanha, que chamou a uma das ilhas Espiritu Santo, que sempre trazem à memória as aves do paraíso. Fala-se inglês e francês, tal Canadá tropical, e o seu hino chama-se Yumi, Yumi, Yumi: é ou não é uma delícia?

Por religião adoptaram várias, mas a mais curiosa é a que tem por ídolo um soldado americano da 2ª guerra mundial de nome John Frum, e não me vereis a mim, católico venerador de um carpinteiro crucificado, franzir o sobrolho: acreditam que construindo aviões de bambu, tornarão a cair bens de consumo como outrora caíam dos aviões militares americanos. Já vos vejo sorrir mas não vos esqueçais que nós também acreditamos que, expulsando três demónios que nos visitam com a regularidade de um relógio suíço, o leite e o mel voltarão a escorrer. Chama-se a isso “wishful thinking”.

Outros ainda cultuam o príncipe Filipe, marido da tia Bélinha, porque a figura encaixa numa profecia das suas lendas. Tivesse havido nevoeiro no Tejo, naquela manhã de 1957 quando o casal real nos visitou, e estaríamos agora a disputar com os Vanuatenses o seu ídolo.

Com abundância de papaias, ananases e batata doce, não há fome e evitam os fritos.

Não sei o que pensam, mas por mim acho um rico sítio para emigrar.