domingo, 23 de junho de 2013

A BELEZA DO SÃO JOÃO


 
            O uso do cabelo comprido tem sido, ao longo dos tempos, apanágio das mulheres, no entanto muitos homens usaram caracóis e tranças, tendo sido até moda nalgumas épocas. Luís XIV, o rei Sol, vangloriava-se da sua enorme cabeleira encaracolada que dizia ser dele próprio e não postiça como era costume. Outros deixaram crescer os cabelos como símbolo de dedicação a Deus. Alguns tiveram um fim trágico por causa disso, como nos conta a Bíblia no episódio de Sansão.

João Baptista, tal como Sansão, pertencia à “escola” Nazarita onde foi educado a deixar crescer o cabelo e a abster-se de vinho, em total dedicação a Deus. Tal como Sansão teve um fim trágico. Cortaram-lhe a cabeça que foi oferecida numa bandeja de prata a Herodíade, princesa judia e amante do cunhado, o rei Herodes.

O santo precursor, que era filho de gente fina (o pai, Zacarias, era sacerdote e a mãe, Isabel e prima da virgem Maria, era também descendente de sacerdotes famosos) vivia no deserto, devido aos seus votos. Vestia-se de pele de camelo, comia gafanhotos e bebia mel. Vinho, nem cheirá-lo! Porque o vestem de lã e com um cordeirinho ao colo, feito pastor, é um mistério que o povo na sua sabedoria lá terá entendido que seria o melhor. Coisa de mulheres, certamente, a quem não agradavam o aspecto barbudo e cabeludo e camelos bastava-lhes os que tinham por marido. Assim, de pastorinho, ficava melhor no topo da cascata das Fontainhas.

João, primo de Jesus a quem baptizou no rio Jordão, mandava distribuir os bens pelos pobres, clamava contra a corrupção e mandava os soldados pôr a sua força ao serviço da justiça. Contrariando a arrogância dos judeus, vaidosos da escolha de Deus, dizia alto e bom som que o amor de Deus era universal: destinado a judeus e não judeus: foi preso e atirado numa masmorra do rei Herodes, que contudo simpatizava com o santo homem.

O povo amou-o desde sempre e a sua festa tornou-se tão importante que quando os exércitos rivais da guerra civil do império Carolíngio, no século IX, se encontraram frente a frente no dia 23 de Junho de 841 em Fontenay, deliberaram de comum acordo iniciar a batalha somente após a festa do santo; a 25 de Junho a guerra civil terminou com a vitória de um dos lados.

São João morreu, como disse, com a cabeça cortada. Salomé, a jovem princesa filha de Herodíade, assim pediu a Herodes depois de dançar para toda a corte, deixando-a a ferver de excitação. Cumpria um pedido de sua mãe que odiava João por este protestar contra a sua união com Herodes, o irmão do seu falecido marido. O famoso escritor Oscar Wilde escreveu sobre o assunto uma peça dramática que Richard Strauss, no início do século XX, pôs em ópera para grande escândalo da sociedade de então, tendo sido proibida em Londres, Viena e Salzburgo. Wilde afirmava que a jovem Salomé se vingara pela falta de atenção que João lhe dera, quando o visitara na prisão e se deixara encantar pelos longos cabelos, barba à George Clooney e o corpo enxuto de quem faz dieta rigorosa, que nem o Cristiano Ronaldo.

Era belo o João Baptista, mas uma mulher despeitada é pior do que o mais poderoso exército!
 
imagem: o clímax de Salomé por Audrey Beardsley, roubado daqui



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