Existe um clube onde as reuniões não são mais do que
a forma que o diabo tem para organizar a lista para apresentar nas audiências
com o Criador, quando da distribuição das almas, onde Deus sai sempre perdedor.
É que poucos resistem ao glamour dos salões do mafarrico e quando o convite
chega não há santo que resista.
O sócio português do clube é dono de jornais. Não de
fábricas que produzam valor acrescentado para o país, não: de jornais e
revistas que enchem as salas de espera de cabeleireiros e dentistas. Isto de
ser dono de jornais e milionário num país onde ninguém lê tem que se lhe diga,
desde que um pobre tipógrafo com quarto arrendado fundou o Diário de Notícias
permitindo, mais tarde, que a filha e o genro assentassem arraiais em palácio
seiscentista à Graça. Ter sido, a filha, protagonista de um dos maiores
escândalos de alcova na 1ª república, que mais não deu que um livro esquecido
nas prateleiras das livrarias, diz muito sobre a alfabetização do país e a
riqueza que se cria com a ignorância das letras.
Aos membros do clube que manda no mundo (se
excluirmos a China que foi e é quem sempre mandou, como os espanhóis
descobriram no século XVII), é costume apresentarem os futuros
primeiros-ministros de Portugal. Mas Passos Coelho não foi à reunião do clube,
oiço dizer. É verdade, mas também se diz que Passos Coelho não passa de uma
figura decorativa: o rapaz é jeitoso, tem charme e dizem que é inteligente e eu
acredito; porque quem manda é um tal que veio da América escolhido pelo clube,
com nome parecido aos Bórgias, mas que nem Lucrécia nem César quereriam para
escabelo dos pés.
Só isto seria já razão de sobra para ir para a rua
gritar, mas não como faz alguma gente mal-educada que impede os outros de falar
(não vá dizerem algo de útil), fazendo muito ruído na esperança que confundam a
arruaça com assaltos ao palácio de inverno. Ir para a rua gritar para que me
ouvissem e deixar que se ouvissem. Se acrescentarmos um presidente que
convoca o conselho de estado para discutir a situação que virá depois da
troika, fingindo fazer alguma coisa para que se esqueça a actual, verão que me
sobram razões para gritar de peito aberto ao vento.
A gritar ou não gritar, como diz o outro, não é que
oiço dizer que a esperança de
Portugal foi também convidada a ir ao beija-mão dos sócios do clube, levando
por companhia o braço direito do actual primeiro, que foi o que se pôde
arranjar, porque a esquerda não sabe comer de garfo e faca (o caviar come-se à
colher), e o homem não é esquisito? Dizem que o jovem promissor, sem forças
para recusar mas seguro de si, fez
peito cheio e disse: que sim, que ia, para lhes dizer umas verdades, cara a
cara, como quem não teme os grandes do mundo!
…
- Olha Tózé,
diz lá o que tens a dizer, mas pelo amor de Deus não faças essa boquinha, que
pode parecer mal. É gente muito sensível…
- E ó
Paulinho, o vinco? Achas que o vinco das calças está no sítio? Não quero fazer
má figura, assim, logo de início. Tu entendes…
- O vinco tá
bem, Tózé. Mas esse pullover…?! Onde é que compras isso? Na feira das Caldas?
- Ó
Paulinho, é que me constipo, e depois fanhoso custa-me a fazer voz grossa!
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