quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O QUE SE APRENDE COM OS GREGOS


Sempre entendi que estudar os gregos era tarefa indispensável a quem quisesse perceber o mundo que nos rodeia. A recente vitória do Syriza veio confirmar a minha tese. A par de Sófocles e de Homero tem a história grega actual muito que nos ensinar. Desde logo a rapidez com que se demite um parlamento e um governo, fazem-se eleições e dá-se posse a um novo governo. Não chegou a perfazer um mês. Se aprendêssemos como se faz, talvez que o caso da Madeira não se arrastasse por três meses como tudo indica que acontecerá.
Outro ensinamento é como acabar com os partidos do arco da governação. Dizem os que não fazem parte do tal arco que a culpa é desses partidos que se substituem uns aos outros na dança dos governos. Não se atrevem a dizer que a culpa é do eleitorado mas é o que lemos nas entrelinhas. Fizessem como o Syriza, isto é, apresentassem ao eleitorado uma vontade firme em querer ser governo e o eleitorado talvez partisse o tal arco como fez na Grécia.
Mas não somos a Grécia. Os partidos de fora do arco da governação preferem a comodidade da oposição e nunca mostraram disposição para serem governo, e o eleitorado sabe-o bem!
Não foi por acaso que Ulisses fundou Lisboa. Só lhe aprendemos as manhas!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

QUE FEVEREIRO SUBSTITUA JANEIRO

Hoje não quero escrever sobre blasfémias, brigas de famosos e muito menos da crise. Quero escrever sobre um miúdo que nasceu nos subúrbios da grande Lisboa e que traz no nome e no dia em que nasceu, o seu destino: Sambé!
Sambé é filho de uma portuguesa e de um guineense. No Centro Comunitário do bairro municipal do Alto da Loba, em Paço de Arcos, perdia-se pelo funaná e pelo kuduro.
Um dia a psicóloga do centro, Maria Rosa, reparou nele. A Câmara, essa instituição tão mal amada pela imprensa, deu-lhe ajuda e a história aconteceu. Vem escrita por aí. Procurem que eu não quero plagiar.
Em Fevereiro seria uma óptima altura para irmos a Londres. A Convent Garden, mas está esgotado. Marcelino Sambé, que tem música no nome e porque nasceu no dia da dança, vai prová-lo no famoso, difícil e virtuoso pas de trois do 1º acto do Lago dos Cisnes da temporada do Royal Ballet. Ali, na elegante sala da Royal Opera House em Covent Garden, mesmo no coração de Londres, com a bilheteira esgotada.

Isso deixa-me assustado. Não por falta de confiança no menino português e guineense, mas pelos Marcelinos Sambés que há por esses bairros da periferia com tão poucas Marias Rosas para os verem.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

NAQUELE TEMPO...

Micro contos II

NAQUELE TEMPO


Quando os netos faziam-lhe a cabeça em água, gritava que eram rabinos e que só sabiam judiar dela.
Quando o marido lhe pedia o almoço resmungava que não era a deusa dos mil braços.
Quando o filho lhe entrou em casa, magro e desmazelado, com a barba por fazer, gritou-lhe: Pareces mesmo um Cristo, c’um raio. Vai cortar essa barba, alma do diabo.
Quando decidiu pôr-se ao caminho para enfrentar a nora, pensava com os seus botões: Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha ao Maomé. E quando a encontrou disse-lhe o que o profeta não disse do toucinho!
Quando morreu sufocada com um bocado do chouriço do cozido ninguém estranhou. Foi no tempo longínquo em que os terroristas eram todos católicos ou protestantes e não saíam da Irlanda.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A BLASFÉMIA

 
Fazer-se alguém vingador de Deus e do seu profeta, é menorizar Deus e o seu profeta. É afirmar que Deus é indefeso e incapaz. Ao pé de tamanha grosseria contra Deus e o seu profeta, os cartoonistas não passam de anjinhos de altar.
Não conheço maior blasfémia do que a daqueles que dizem conhecer a vontade de Deus.
 
Imagem: “A última ceia” de Ben Willikens



sábado, 3 de janeiro de 2015

O CHEF

 

Decidi iniciar o ano com uma série de micro-contos, género que pretendo cultivar, se para isso tiver talento. Eis o primeiro:

 
O CHEF

A relação deles tinha altos e baixos. Para a apimentar decidiu frequentar um curso de chef de cozinha, iguais aos que via na televisão. Durou seis meses e custou-lhe um dinheirão, mas aprendeu como ninguém a fazer uma vichyssoise para arrefecer os ânimos e vol au vent para quando o amor se pusesse a flanar. No fim convidou-a para jantar.
        Foi quando ela poisou o garfo e lhe disse, passa-me o sal, que ele percebeu que tudo estava terminado entre eles.