sexta-feira, 1 de abril de 2016

ANGOLA É TÓXICA PARA O NOSSO PARLAMENTO


Há dois tipos de substâncias que podem ser mortais e que connosco convivem: os venenos e os germes. Aos venenos basta que não lhes toquemos e eles nada farão contra nós. Quanto aos germes, a prevenção é mais difícil. Luaty Beirão e seus companheiros são para o governo de Angola, com perdão da comparação, como os venenos: não lhes tocasse o governo angolano e ninguém daria por eles, tão perigosos como beladonas num campo primaveril. Mas o governo Angolano, revelando pouco traquejo político, tocou-lhes e tomou deles o veneno. Os efeitos da toxicidade logo se verão.
Não sabemos ainda quais serão os efeitos desta atitude tóxica no governo de Angola mas já se conhecem efeitos, por contágio, nos deputados e políticos portugueses, com excepção do BE que tomou a tempo o antídoto (lá diz o povo, mordedura de cão trata-se com pêlo de cão). Jorge Coelho, por exemplo, vê um neocolonialista em cada crítico de Angola, enquanto o PCP já não consegue distinguir a esquerda da direita, porque os revolucionários que antes apoiavam se ligaram ao grande capital sem que o partido dos trabalhadores se tenha dado conta. O PS titubeia devido aos efeitos paralisantes do tóxico, dizendo que sim e que não, mas talvez. O PSD e o CDS, esquecendo-se das suas corajosas tomadas de posição sobre assuntos internos da Coreia do Norte, aliaram-se ao PCP, dando a mão direita a quem não sabe da esquerda.
Fatal e perigoso é, no entanto, o estado em que ficou o deputado Duarte Marques. Tendo levantado a voz contra o BE por este demorar em insurgir-se contra o governo de Angola, votou contra, quando, finalmente, o Bloco desancou naquele governo. Agoniado, não se lembrou de outra coisa e vai de botar nas redes sociais a preclara declaração de voto que fez ecoar no vetusto convento de S. Bento, com uma retórica digna do Dr. Libório de Meireles, criação do meu querido Camilo, mas sem o estilo farfalhudo, que o deputado de RibaTejo não sabe latim nem grego, o que faria Calisto Elói, adversário do Libório, entristecer-se ainda mais ao “contemplar a ribaldaria com que os belfurinheiros de missangas e lentejoulas adornam a língua de Camões”. Disse o nosso deputado que a prisão dos activistas angolanos é uma violação dos direitos humanos que fere os valores fundadores da CPLP. Depois acrescentou que votou contra as propostas do BE e do PS porque entende que não devem os parlamentos imiscuir-se na justiça dos outros a não ser que estejam em causa, aqueles mesmos direitos humanos!?
Percebeu o leitor o quão grave é o estado do nosso deputado? Esperemos agora o evoluir da doença, que a mim veio-me de novo à lembrança o Calisto Elói do Camilo: “Retórica, gramática e lógica, se alguém quiser tratá-las neste prédio, entretenha-se lá em baixo no pátio com o porteiro, ou com as viúvas e órfãos, que pedem pão com a lógica da desgraça, e com a retórica das lágrimas; gramática não sei eu se a fome a respeita: parece-me que não, porque na representação nacional há famintos que a não exercitam primorosamente.”

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