quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O RACISMO E O FARDO DO HOMEM BRANCO


Um estudante Sul-africano a estudar leis em Oxford ofendeu-se com a estátua do antigo estudante de Oxford, Cecil Rhodes, tendo encabeçado um protesto para o derrube da mesma. Diz ele que Cecil Rhodes representa o imperialismo, o colonialismo e o roubo das riquezas de África.
Que um estudante de um país com universidades com mais de cem anos vá estudar para Oxford que foi o símbolo do imperialismo britânico, e se ofenda com a estátua de um dos seus alunos que tanto deu para a glória desse império, é algo que me surpreende. O estudante, em coerência, devia abster-se de pisar os relvados e as margens do Tamisa. É que se Cecil Rhodes era um sacana, era o sacana dos britânicos e o estudante Sul-africano deveria preocupar-se com os seus próprios sacanas.
Rhodes, um maçon imagine-se, era um homem do seu tempo e partilhava das mesmas ideias que inundavam os corredores das faculdades à beira do Tamisa: de que os ingleses eram uma raça superior e que Deus tinha o desígnio de eles se espalharem pelo mundo a fim de o melhorarem. Se cumprindo esse desígnio enriqueciam, isso era considerado a justa paga pelo seu esforço em prol da humanidade. Rhodes amou África e teve razões para isso. Foi lá que enriqueceu. Mas também deixou os fundamentos de um estado moderno, onde imperariam o desenvolvimento, a justiça e a democracia. Coisa que entretanto desapareceu sem que o jovem estudante Sul-africano se tenha preocupado. Ficou sepultado junto dos reis negros da zona e as tribos indígenas homenagearam-no como se fosse um deles.
Os reis tribais com quem Rhodes negociou, guerreou e oprimiu também acreditavam em desígnios de Deus e dos seus Antepassados. Para os conhecer sacrificavam àqueles, matando jovens para os agradar (sem homens como Rhodes o que teria acontecido ao jovem estudante Sul-africano?). Para testar a coragem dos jovens iniciados, obrigavam-nos a rituais antropofágicos. Podemos criticá-los? Devemos cuspir nos seus túmulos? Julgo que não. Agiam de acordo com as suas crenças e hábitos, tal como Rhodes que apesar da sua arrogância sempre afirmou que não desqualificaria ninguém por causa da cor da sua pele.
O seu pensamento era o da época, no entanto Mark Twain achou que merecia a forca quando afirmou: “Admiro-o muito, confesso com franqueza; tanto que quando a sua hora chegar comprarei um pedaço da corda para recordação”. Pena não haver um escritor africano que tivesse dito o mesmo dos sanguinários potentados africanos do século XIX.
O estudante Sul-africano de Oxford, ao esquecer a cleptocracia que hoje governa África, lembrando a riqueza de Rhodes está só a afirmar o seu arrogante racismo: de que só os negros podem roubar em África.
Mas o nosso fardo continua. Em Roma cobriram as estátuas gregas e romanas do museu capitolino para não ofender o olhar puro e virgem do presidente do Irão. Tendo em conta a pouca vergonha que impera em Roma (desde que vi aquela Madalena de seio nu junto ao corpo de Cristo na esperança da sua Ressurreição, nunca mais fui o mesmo), julgo que as autoridades romanas, na próxima visita de um homem de estado muçulmano, deverão cobrir a cidade inteira com um enorme lençol branco. Que não fique nada de fora desde São Paulo extra muros até à piazza del Popolo, de São João de Latrão ao Vaticano. Sobretudo o Vaticano. Depois recebam o homem nas catacumbas de São Calixto, de preferência às escuras, não vá haver nas paredes tumulares algum fresco menos próprio.

sábado, 16 de janeiro de 2016

PARA QUE QUEREMOS UM/A PRESIDENTE?


Maria de Belém (ladies first), que tem um curso de estudos militares, quer castigar os velhinhos dos lares impondo-lhes visitas presidenciais. Eu e ela temos uma coisa em comum: gostamos de travesseiros. Marisa Matias, que não gosta de militares, não podendo acabar com a testosterona quer retirar o dinheiro para as armas julgando assim impedir a guerra. Acaba tudo à pedrada ao primeiro piropo! Marcelo, incapaz de argumentar, a meio da campanha faz publicidade a um canal de televisão privado e diz que não é de intrigas. Depois de atormentar a bela Inês posta em sossego, bebe uma mini na taverna do Capador(tome cuidado Marcelo. O nome não é de bom augúrio!). Henrique Neto tem razão e visão, mas não tem emoção, ao contrário de Afonso de Albuquerque que vira as costas ao palácio de Belém. Edgar Silva, que desistiu de ser pescador de homens para se tornar caçador de votos, quer manter a incongruência em república do estatuto de primeira-dama. Não conseguindo distinguir que em república só há lugar para eleitos, é natural que não consiga perceber se a monarquia absolutista da Coreia do Norte é uma democracia ou uma ditadura. Paulo Morais não põe o pescoço (que não tem) no cepo por ninguém, mas não consegue acusar alguém, ele que toda a vida pertenceu ao sistema. Vitorino Silva é Tino de Rans: há quem ache graça à impossibilidade de perceber as próprias limitações. Apoiá-lo nesse desiderato é insultar a República e o candidato. Cidadãos ou clientes é a confusão semântica de Jorge Sequeira, um orador motivacional a levar lições de motivação de Tino de Rans. Acha que “uma presidente para todos” é capaz de ser demasiado para uma mulher só. Há muito que não se via tamanha motivação para o disparate. Cândido Ferreira, que ninguém sabe quem é para além de saber que não faz discursos sem ler um papel, quer levar para o Paço, como na Idade Média, as associações de estudantes, os sindicatos, a associação dos inquilinos, as ordens profissionais, a associação nacional dos proprietários, a sociedade recreativa de Alguidares de Baixo… enquanto acaba com o número de deputados que deviam representar o Povo (é de novo o tempo das corporações). Por último, Sampaio da Nóvoa, descoberto por Cavaco e levado ao colo por variadas e antagónicas personalidades do país, não tem contradições porque os mudos e quedos nunca se contradizem. Com a evangélica frase de um Tempo Novo tem o condão de me recordar São Paulo e a carta aos Coríntios: “…bronze que ressoa, címbalo que retine…”.
Em nome da República acabem com o cargo de Presidente já: um absurdo na ética republicana. O governo que governe e nos represente e a Assembleia que fiscalize. Edgar Silva, cá está uma americanice que vale a pena copiar. Esqueça o gabinete que prometeu à sua senhora. É que já nem os miúdos compram álbuns de cromos! 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

OS REIS MAGOS E A LIBERDADE


Felizmente para a nossa cultura ocidental a Igreja foi, desde sempre, forte mecenas das artes: da música mas também da escultura e da pintura. Para além de satisfazer o gosto estético dos homens da Igreja servia maravilhosamente para contar e falar da Boa Nova. Mas não quer isto dizer que o artista tivesse liberdade para recriar os temas bíblicos como lhe aprouvesse. Qualquer sugestão interpretativa que fugisse aos cânones estabelecidos podia valer a carreira do artista quando não a vida. Por isso os reis magos tornaram-se num motivo apetecido pelos artistas. A Bíblia nada diz sobre quem eram, o que representavam e nem quantos eram. Limita-se a falar de uns sábios homens que ofereceram ao menino, ouro, incenso e mirra. Se a Bíblia não conta também não desconta! E assim toda a liberdade criativa é possível tornando-se a adoração dos magos num dos temas preferidos dos pintores. Em contraste com um menino embrulhado nuns farrapos, o artista pode, sem medo de errar, colocar três homens sábios levando presentes, como aparecem já em elementos escultóricos das catacumbas, como pode pintá-los como reis representando as idades do Homem ou as partes do mundo conhecidas: A Europa, a Ásia e a África. O certo é que a exuberância pode imperar, como a condição real e os presentes permitem sugerir. É uma festa para o pintor e para o espectador. Abandona-se toda a simplicidade e os reis aparecem com séquitos mais ou menos esplendorosos, cortesãos, homens de armas, animais, etc., e em vez de uma fralda branca de algodão egípcio sobre as palhinhas, lá temos, sedas, brocados, veludos, bordados, peles, dobras de mantos em jogos de luz e sombra, o açafrão para os tons dourados, o cobalto e a púrpura para os azuis da realeza, coroas, chapéus, plumas... Uma festa! A narrativa bíblica da natividade é muito mais pastores e anjos: uma monotonia de asas e cajados! Os artistas escolheram, naturalmente, o glamour de nada mais nada menos do que três séquitos reais inexistentes (mas sugeridos) na narrativa.
A liberdade é tanta que o nosso Grão Vasco, em pleno século XVI, não hesita e transforma o africano Baltazar em índio Brasileiro, e o cacique Tupiniquim entra na lapinha de Belém com a mesma autoridade que aqueles ossos que se encontram na catedral de Colónia. Isto é: total liberdade para se dizer e fazer o que se queira porque, seja o que for, será sempre lisonjeiro para os guardiães da Igreja Universal. E nada há mais seguro para garantir a liberdade do que a lisonja aos poderosos!
E para continuarmos livres de sermos donos do que é nosso, participe nesta campanha de angariação de fundos para adquirirmos o quadro “Adoração dos Magos” de Domingos Sequeira, que eu mostro acima, e que o Museu Nacional de Arte Antiga lançou. Basta ir ao seguinte link.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

OS MEUS DESEJOS PARA 2016


O meu desejo para o Novo Ano é que apareçam Homens e Mulheres grandes que expulsem os pigmeus amedrontados que, sob a capa de feitos revolucionários e patrioteiros, temem a grandeza da Europa de Carlos Magno e Júlio César. Para que a Europa possa ser, caso contrário transformar-se-á, não num aglomerado de naçõezinhas mas naquilo que já é geograficamente: a extensão da Ásia. Que expulsem os pigmeus que, como recentemente em Espanha, por exemplo, confundem, como bem lembrava Unamuno, patriotismo com nacionalismo, esse mal de gente assustada com o tamanho do Universo, e cospem na língua de Cervantes que ilumina o Novo Mundo do outro lado do Atlântico. Ou os pigmeus que à sombra de Joana d’Arc “revolvem” o túmulo de Vítor Hugo (a gigante Joana d’Arc sempre teve a sina de acompanhar com pigmeus desde os tempos do seu camarada de armas, o infame Gilles de Rais). Que expulsem aqueles pigmeus que não são dignos de serem pisados, sequer, pelos cascos do cavalo Buraq que transportava o Profeta (será talvez por isso que o cavalo voava), e que impedem que um dia a fronteira da Europa possa passar do Mediterrâneo para o Saara, para que nas suas praias só se vejam crianças construindo castelos de areia.

Os meus desejos são difíceis de concretizar: neste mês de Janeiro temos concurso de pigmeus…!