Ontem,
quando passeava pelo parque das Caldas, reparei numa jovem que envergava uma t-shirt onde se lia, em inglês, que a
roupa não tinha género. Aparentemente, uma t-shirt,
de facto, não tem género, mas este tipo de afirmação esconde uma ideia
fascizante de que o Homem e a Mulher devem desaparecer para dar lugar a um ser
sem género. Como sou adepto da diversidade esta ideia de acabar com a diferenciação
de género soa-me tremendamente fascizante e desumana. O ser humano é homem e
mulher, e é na sua diferença que está o segredo da nossa riqueza que assenta na
diversidade. Viva a diferença de género, com ou sem t-shirt.
A
diferença entre Homem e Mulher assenta, no entanto, na única função exclusiva a
um género: a mulher pode gerar filhos e alimentá-los, o Homem não. Por isso os
seus corpos são diferentes e o Homem só é preciso para lá ir pôr a semente no
ventre fértil da Mulher. Ao Homem sobra-lhe, portanto, tempo, luxo que as
mulheres não têm. O Homem precisou de desenvolver as competências que nas
mulheres são inatas: isto é, todas, menos a de gerar filhos.
Dizia um
tonto na blogosfera, sarcasticamente, que queria ver as mulheres experimentarem
determinadas profissões de homens rijos e duros. Depois dava, entre outros
exemplos estapafúrdios, o de mineira e ferreira. Eu morreria à fome se, para
sobreviver, tivesse de entrar numa mina. Não tiveram escolha as desgraçadas
mulheres descritas por Zola, que no século XIX, ainda meninas e sem “ordem”
para ter filhos, eram enterradas nas minas do Norte de França para extrair o
carvão que enriquecia os burgueses que guardavam as filhas em casa por serem
frágeis.
Frágeis
são os homens da minha terra que caminham de chapéu de sol no braço à frente da
mulher que, com o filho nas costas, carrega à cabeça a trouxa da viagem.
Na
iluminura de uma Bíblia inglesa do início do século XIV, os monges não tiveram
qualquer rebuço em lá pintar uma mulher a trabalhar na forja para fabricar os
pregos que iriam ajudar a calçar os pés das bestas, porque o marido, coitado,
se ferira num braço (se a mulher se ferisse o homem trataria de arranjar
outra). No século XVIII, no país de Gales, Marged Ferch Ifan, uma mulher enorme
(não são todas?), era a mais famosa ferreira do condado. Com a bonita idade de
70 anos, ainda lutava com qualquer homem que a desafiasse. Com dois sopapos
dados a tempo convenceu o marido a largar o álcool para sempre. Para além da
forja, era uma exímia sapateira, carpinteira, caçadora, remadora, e mantinha
uma taberna junto às minas de cobre. Para mostrar que era fêmea sensível e não bruta como um macho,
entretinha os mineiros bêbados tangendo, com as manápulas enormes de ferreira, as cordas
da harpa que ela mesma construíra.
Por ser
a favor da diferenciação de género, achei muito bem que a Porto Editora tivesse
feito cadernos separados para rapazes e raparigas, mas foi tremendamente
injusto que tivesse colocado os exercícios mais difíceis no caderno dos
rapazes… pobres rapazes!
Fico muito contente com essa homenagem que fazes às mulheres e viva a diferença de géneros puxa
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