domingo, 17 de setembro de 2017

A JUSTEZA DAS GREVES É UMA QUESTÃO DE COR?



No início da minha vida profissional (foi há tantos anos!) fui trabalhar para uma autarquia de maioria comunista. Gente fantástica e amiga. Fui recebido de braços abertos e lá aprendi imenso. Aprendi o sofrimento de um povo que não tinha tido o direito à terra e onde pouco mais era que escravo dos grandes donos da mesma. A autarquia tomou a si a grande tarefa de dinamização social e cultural. Deu trabalho a muita gente e assumiu como pública as tarefas antes reservadas ao privado. E tinha sucesso, reconhecido à direita e à esquerda, no entanto… Um dia apareceu por lá o sindicato ligado à CGTP. Os trabalhadores andavam descontentes porque a autarquia não os colocava no quadro e assim, ganhavam menos que os trabalhadores rurais da Reforma Agrária. Os sindicalistas aconselharam que era preciso paciência pois a Câmara trabalhava para o bem comum e todos tinham que participar no sacrifício. Eram tempos de crise.
Por razões da vida, e porque também não estava no quadro (era política daquela autarquia não colocar ninguém no quadro) vim trabalhar para a autarquia onde ainda me encontro e onde espero terminar os anos da minha vida profissional. Como lá, fui aqui recebido de braços abertos e de braços abertos continuam a acolher-me. Sofrem e riem comigo, não podia pedir mais. A política, essa, caminhou da Aliança Democrática ao PS e deste para o PSD. Os bens da terra, sempre mal distribuídos, eram, no entanto, um pouco mais equitativos. Não houve necessidade de avermelhar a luta. Vim encontrar a mesma vontade de assumir um compromisso sério com as populações, mas os trabalhadores estavam no quadro. Na altura, como agora, os tempos continuavam de crise e havia, como há sempre, descontentes. O mesmo sindicato apareceu, e os sindicalistas eram os mesmos que tinham aparecido a aconselhar paciência aos trabalhadores. Esperei pelo conselho e qual não foi a minha surpresa quando disseram que era preciso exigir à autarquia que cumprisse com as justas reivindicações dos trabalhadores. De nada valeu interpela-los para a incongruência.
Veio-me à memória este episódio por causa da greve dos enfermeiros e como certa Esquerda tem denegrido a mesma, só porque a bastonária pertence ao partido "errado"!
Não é preciso muito para chegarmos à “democracia” do partido único, mas isso chama-se, como no tempo de Salazar, ditadura!
(imagem daqui:http://www.military.com/daily-news/2015/07/27/with-a-warning-to-us-north-korea-marks-end-of-korean-war.html)