segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

NÃO PERCEBO NADA DE ECONOMIA, MAS...



Amanhã é Natal e lá estão o burrinho e a vaca no presépio. Animais de carga e de trabalho. Lá estarão também os pastores e depois virão os sábios, homens de ciência, como eram os magos. Talvez que nunca na história o trabalho tenha sido tão dignificado como no presépio. É o cristianismo, muito antes das ideologias do século XIX, que vai elevar o trabalho à dignidade que hoje tem, muito por mérito da regra da ordem de São Bento, que eleva o trabalho e a leitura às melhores das actividades humanas. Trabalho e cultura.

Agentes da cultura fogem agora da França, sobrecarregados, coitados, pela carga fiscal. Afirmam eles que ganharam o dinheiro com a sua imagem e com o seu trabalho e que por isso não é justo tal carga. Zola, um dos grandes homens da cultura francesa, não fugiu, não se queixou: antes foi viver no meio dos mineiros, partilhou o seu viver e o seu trabalho. Depois escreveu uma obra prima.

Os mineiros produzem trabalho sob condições terríveis. Enriquecem os países e os proprietários das minas. Todos enriquecem menos os mineiros. Os estados, procurando maior justiça social, taxam com impostos os que enriquecem com os mineiros, mas taxam também os mineiros que não enriqueceram. Depois, os estados, lembrando-se da cultura, apostam fortemente, como o caso da França, no cinema, no teatro, etc. A cultura, fortemente subsidiada para que todos a ela possam ter acesso, permite que homens como Depardieu sejam conhecidos não só em França mas no mundo inteiro. Pode assim Depardieu cuidar da sua imagem e ganhar dinheiro com ela. Os mineiros, não.

Maior foi Cyrano, que Depardieu tão bem encarnou como personagem, e no entanto foi pouco mais que miserável. Não se subsidiava a cultura e os mineiros não faziam ideia quem era Cyrano para que pudesse cuidar da imagem. Este limitava-se a escrever no meio das batalhas, porque era soldado.

Se não houver dinheiro para subsidiar a cultura, não haverá consumidores de cultura e Depardieu não terá imagem para cuidar, pois os mineiros não saberão quem é. Vai a França então taxar quem? Os mineiros?

Dizem que a taxa é excessiva. Talvez. Mas mesmo assim Depardieu continuará rico e os mineiros pobres, e os impostos sempre ajudam a cuidar da sua imagem, por isso é investimento. Não vão os mineiros lembrar-se que há mais de duzentos anos a taxa para os ricos chegou aos 100%, vida incluída… essa sim, era excessiva.

Dirão que raio, na Noite de Natal, vir para aqui falar destas coisas, mas o que querem. Desde que soube pela TV que sou dono de um banco falido, fiquei assim!

UM BOM NATAL PARA TODOS.



Sem comentários:

Enviar um comentário