João Baptista, tal como Sansão, pertencia à “escola”
Nazarita onde foi educado a deixar crescer o cabelo e a abster-se de vinho, em
total dedicação a Deus. Tal como Sansão teve um fim trágico. Cortaram-lhe a
cabeça que foi oferecida numa bandeja de prata a Herodíade, princesa judia e
amante do cunhado, o rei Herodes.
O santo precursor, que era filho de gente fina (o
pai, Zacarias, era sacerdote e a mãe, Isabel e prima da virgem Maria, era também
descendente de sacerdotes famosos) vivia no deserto, devido aos seus votos.
Vestia-se de pele de camelo, comia gafanhotos e bebia mel. Vinho, nem
cheirá-lo! Porque o vestem de lã e com um cordeirinho ao colo, feito pastor, é
um mistério que o povo na sua sabedoria lá terá entendido que seria o melhor.
Coisa de mulheres, certamente, a quem não agradavam o aspecto barbudo e
cabeludo e camelos bastava-lhes os que tinham por marido. Assim, de pastorinho,
ficava melhor no topo da cascata das Fontainhas.
João, primo de Jesus a quem baptizou no rio Jordão,
mandava distribuir os bens pelos pobres, clamava contra a corrupção e mandava
os soldados pôr a sua força ao serviço da justiça. Contrariando a arrogância
dos judeus, vaidosos da escolha de Deus, dizia alto e bom som que o amor de
Deus era universal: destinado a judeus e não judeus: foi preso e atirado numa
masmorra do rei Herodes, que contudo simpatizava com o santo homem.
O povo amou-o desde sempre e a sua festa tornou-se
tão importante que quando os exércitos rivais da guerra civil do império
Carolíngio, no século IX, se encontraram frente a frente no dia 23 de Junho de
841 em Fontenay, deliberaram de comum acordo iniciar a batalha somente após a
festa do santo; a 25 de Junho a guerra civil terminou com a vitória de um dos
lados.
São João morreu, como disse, com a cabeça cortada.
Salomé, a jovem princesa filha de Herodíade, assim pediu a Herodes depois de
dançar para toda a corte, deixando-a a ferver de excitação. Cumpria um pedido
de sua mãe que odiava João por este protestar contra a sua união com Herodes, o
irmão do seu falecido marido. O famoso escritor Oscar Wilde escreveu sobre o
assunto uma peça dramática que Richard Strauss, no início do século XX, pôs em
ópera para grande escândalo da sociedade de então, tendo sido proibida em
Londres, Viena e Salzburgo. Wilde afirmava que a jovem Salomé se vingara pela
falta de atenção que João lhe dera, quando o visitara na prisão e se deixara
encantar pelos longos cabelos, barba à George Clooney e o corpo enxuto de quem
faz dieta rigorosa, que nem o Cristiano Ronaldo.
Era belo o João Baptista, mas uma mulher despeitada é
pior do que o mais poderoso exército!
imagem: o clímax de Salomé por Audrey Beardsley, roubado daqui.
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