sábado, 3 de agosto de 2013

RECEITA PARA O VERÃO - TOSTAS DE SANTO ANTÓNIO

 

Porque é verão, tempo de frivolidades, decidi deixar aqui uma receita para uma entrada simples e despretensiosa, possível até no campismo. Inventei-a no dia de anos do meu filho, quando a primavera se rendia ao verão, entre o santo António e o são João. Por isso chamei-lhe “tostas de santo António”: Santo António porque, tal como o santo, junta a Itália com Portugal, que é sempre um bom casamento, desde que o nosso primeiro Afonso mandou vir daquela península, a primeira rainha de Portugal.

Cortem-se fatias de um bom pão de trigo, daquele que celebra o Mediterrâneo por onde o nosso santinho navegou. É certo que o pão nasceu entre o Tigre e o Eufrates, mananciais do golfo pérsico e do Índico, mas era uma coisa dura e sem graça. A bola de trigo levedada, fofa e gostosa desenvolveu-se entre a foz do Nilo e os Pirinéus, acabando os celtas por abrir padarias pela Europa fora. Fomos nós, os ibéricos, quem o fazia mais fofo pela levedura roubada à espuma fermentada da cerveja. Outros copiaram-nos e usavam o mosto das uvas para o efeito. Esteve o pão sempre ligado à bebida fermentada de tal modo que Nosso Senhor assim quis ficar entre nós: no pão e no vinho, que fermento era ele.

Se as fatias forem muito grandes corte-as ao meio de modo a que tenham, mais coisa menos coisa, meio palmo, ou sejam 10 a 12 cm de lado. Botem as ditas no forno a torrar de um lado e do outro, só a alourar como a senhora Merkel. Podem comprar tostas já feitas, mas não aconselho. Só autorizo se estiverem acampados e houver urgência em impressionar.

Em estando as tostas frias, coloque em cima de cada uma, duas rodelas de tomate seco em conserva de azeite, e cá temos a Itália: tal como nacionalizámos o bacalhau do mar do Norte, fizeram os italianos o mesmo ao tomate americano. Deixe que o tomate pingue o azeite da conserva sobre a tosta para aligeirar a dureza e a secura do pão.

Cubram-se as rodelas de tomate com folhas frescas de manjericão, que há-de dar um sabor fresco ao verão, a lembrar manjericos. Entretanto vá servindo um branco fresquinho à namorada/o que convidou para jantar, e cante-lhe uma quadra bem rimada que fale dos olhos dela ou dele, a não ser que seja vesga/o, situação em que deve evitar qualquer menção aos ditos:

 
Sardinhas de sant’ António
                         Fugiram do teu olhar,
                         Mora nele um demónio
                         Que obriga a te amar!

 
Sardinhas, lembra a quadra, e temos Portugal. A sardinha, como é sabido, é bem portuguesa embora navegue pelos sete mares, ou não tivessem sido os portugueses quem os abriu ao mundo. Vem agora a propósito contar a história do célebre sermão do doutor da igreja nascido à sombra da Sé:

Andavam as sardinhas em cruzeiro pelo Adriático quando ouviram falar que o santo gostava de ensinar, em sermões cheios de saber, a bicheza do mar, e puseram-se à escuta. Diz quem lá esteve que quando o santo pregou aos peixes, foram as sardinhas as mais atentas, e que estas, por diversas vezes, tiveram de pôr na ordem o carapau que atrevido, as tentava distrair. Por isso comem os portugueses tanta sardinha, na esperança de adquirirem o saber que o santo lhes legou, mas em vão, porque não passam de “carapaus de corrida”.

Abram-se portanto latas de sardinhas em conserva de azeite, picante ou não, mas nunca em molho de tomate, porque isto dos tomates convém tê-los mas com conta, peso e medida, para não espantar o gado, salvo seja.

Para que não fique a tosta muito alta, que são as portuguesas baixinhas, costumo cortar longitudinalmente as sardinhas e aproveito para lhes tirar a espinha que elas têm, ao contrário de certos políticos. E assim, maleáveis e rendidas, sem espinha que as endireite, vergo-as com gentileza sobre a cama verde do manjericão.

E pronto, agora é só comer… as tostas, que ainda não é hora da sobremesa!

 
INGREDIENTES

Pão de trigo às fatias, alouradas no forno
Rodelas de tomate seco em conserva de azeite (compra-se em qualquer supermercado de jeito)
Folhas de manjericão fresco
Sardinhas em conserva de azeite
Alguém a quem se ame (ou se deseje, na impossibilidade de amar)
Um vinho para acompanhar
Uma quadra popular (à falta de melhor, podem utilizar a que aqui fica)



1 comentário:

  1. Quero avisar os leitores deste blog que esta receita é fácil e boa, obrigada

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