Georges!
Anda ver o meu país de marinheiros,
a quem falta arrais que o leve a bom
porto.
Anda ver como levam a barca a pique,
Como confundem arte com activos
financeiros…
Vem ver a barca!
Que
linda vai com seu erro de ortografia…
Georges! Anda ver como as elites se sobressaltam
com a venda dos activos,
e não se inquietam por os
teatros nacionais
não terem ainda programação
conhecida.
E já vamos em Fevereiro, Georges!
Georges! Anda ver o meu país de
juristas e magistrados,
discutindo Matisse e Picasso!
Afirma o juiz desembargador,
nova estrela da TV,
ser o surrealista e dadaísta Miró,
impressionista!
E catalão!
Ah Catalunha, nação irmã na opressão,
Que impressiona o desembargador,
mais a prima do mestre de obras,
com as naturezas mortas do Mercat de Sant Josep.
Georges! Hão-de todos os catalães ser
por força
impressionistas…
Que
linda vai com seu erro de ortografia…
Georges!
Anda ver meu país de romarias e procissões!
E verás, Georges, um povo rezando no
templo das musas.
E como sacerdotisa a senhora
procuradora
que vela pelo cumprimento
das regras de bem vender
o que é de todos, e vai
mais longe, Georges!
Entende que o Miró tem de
ficar no país!
Pensavas, Georges, que
era o governo,
o parlamento,
quem definia a política
cultural do país?
Desengana-te, Georges,
que os tribunais estão
cheios de gente culta!
Achas bem, Georges?
Achas então que ela vai
exigir a recuperação dos edifícios
Onde albergam as nossas
aguarelas, os nossos óleos,
não lhes vá acontecer o
mesmo que à Josefa d’Óbidos,
portuguesa e espanhola
como o “nosso” Miró?
Deus te oiça, Georges! E
uma providência cautelar eficaz,
contra as trovoadas que
fazem arder,
as telas…!
Georges!
Anda ver o meu país de romarias,
e verás o líder da oposição em grande
sobressalto
pela falta da cultura.
Ele que vive nas Caldas não teve ainda
sobressalto,
que se visse,
pelo património de Dona Leonor.
Achas, Georges, que o órgão da Senhora
do Pópulo vai voltar a tocar,
agora que o líder oposto se sobressaltou?
Georges! Anda ver como ando contente mais
o povo
a discutir Braque e Miró, aquele
senhor que pinta coisas
quase tão bonitas como um lenço de
namorados.
Pensas, Georges, que
O
bom povinho de fato novo,
nas
violas de arame soluça, romântico,
fadinhos
chorosos da su’ alma beata?
Não Georges! Ainda verás a alegria
de um Carnaval de Arlequim
em Torres Vedras!
Georges! Vão trazer os Miró’s de Saint
James’s
para o Chiado que vai para obras de
ampliação.
Sempre são 85, Georges! É muita
parede…!
Tiram aos estudantes das belas artes,
Georges?
Quem precisa de estudantes de belas
artes
quando temos Miró’s, Georges!?
e um museu a encher, Georges!?
Dizes tu, Georges! que nem os ombros
e o colo desnudos da excelentíssima
e belíssima viscondessa de Menezes o
conseguiram
até hoje, no Chiado?
A viscondessa frequenta o São Carlos?
Não?
É um quadro do museu…!? E tem os
ombros nus…!?
Vá!
Georges, faze-te Manel! Viola ao peito,
toca
a bailar!
Ó
Georges, vê! Que excepcional cravina…
Que
lindos cravos para pôr na botoeira!
Qu’é
dos Pintores do meu país estranho,
Onde
estão eles que não vêm pintar?
(com especial agradecimento ao António
Nobre, poeta do Só)
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