sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

GEORGES! ANDA VER O MEU MIRÓ...

 

Georges! Anda ver o meu país de marinheiros,
           a quem falta arrais que o leve a bom porto.
           Anda ver como levam a barca a pique,
           Como confundem arte com activos financeiros…
           Vem ver a barca!
Que linda vai com seu erro de ortografia…

Georges! Anda ver como as elites se sobressaltam
com a venda dos activos,
e não se inquietam por os teatros nacionais
não terem ainda programação conhecida.
E já vamos em Fevereiro, Georges!
 
Georges! Anda ver o meu país de juristas e magistrados,
discutindo Matisse e Picasso!
Afirma o juiz desembargador,
nova estrela da TV,
ser o surrealista e dadaísta Miró,
impressionista!
E catalão!
Ah Catalunha, nação irmã na opressão,
Que impressiona o desembargador,
mais a prima do mestre de obras,
com as naturezas mortas do Mercat de Sant Josep.
Georges! Hão-de todos os catalães ser por força
impressionistas…
Que linda vai com seu erro de ortografia… 

Georges! Anda ver meu país de romarias e procissões!
E verás, Georges, um povo rezando no templo das musas.
E como sacerdotisa a senhora procuradora
que vela pelo cumprimento das regras de bem vender
o que é de todos, e vai mais longe, Georges!
Entende que o Miró tem de ficar no país!
Pensavas, Georges, que era o governo,
o parlamento,
quem definia a política cultural do país?
Desengana-te, Georges,
que os tribunais estão cheios de gente culta!  

Achas bem, Georges?
Achas então que ela vai exigir a recuperação dos edifícios
Onde albergam as nossas aguarelas, os nossos óleos,
não lhes vá acontecer o mesmo que à Josefa d’Óbidos,
portuguesa e espanhola como o “nosso” Miró?
Deus te oiça, Georges! E uma providência cautelar eficaz,
contra as trovoadas que fazem arder,
as telas…! 

Georges! Anda ver o meu país de romarias,
e verás o líder da oposição em grande sobressalto
pela falta da cultura.
Ele que vive nas Caldas não teve ainda sobressalto,
que se visse,
pelo património de Dona Leonor.
Achas, Georges, que o órgão da Senhora do Pópulo vai voltar a tocar,
agora que o líder oposto se sobressaltou?
 
Georges! Anda ver como ando contente mais o povo
a discutir Braque e Miró, aquele senhor que pinta coisas
quase tão bonitas como um lenço de namorados.
Pensas, Georges, que
O bom povinho de fato novo,
nas violas de arame soluça, romântico,
fadinhos chorosos da su’ alma beata?
Não Georges! Ainda verás a alegria
de um Carnaval de Arlequim
em Torres Vedras!
 
Georges! Vão trazer os Miró’s de Saint James’s
para o Chiado que vai para obras de ampliação.
Sempre são 85, Georges! É muita parede…!
Tiram aos estudantes das belas artes, Georges?
Quem precisa de estudantes de belas artes
quando temos Miró’s, Georges!?
e um museu a encher, Georges!?
Dizes tu, Georges! que nem os ombros
e o colo desnudos da excelentíssima
e belíssima viscondessa de Menezes o conseguiram
até hoje, no Chiado?
A viscondessa frequenta o São Carlos?
Não?
É um quadro do museu…!? E tem os ombros nus…!? 

Vá! Georges, faze-te Manel! Viola ao peito,
toca a bailar!
 
Ó Georges, vê! Que excepcional cravina…
Que lindos cravos para pôr na botoeira!
Qu’é dos Pintores do meu país estranho,
Onde estão eles que não vêm pintar?

 

(com especial agradecimento ao António Nobre, poeta do Só)



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