sexta-feira, 2 de maio de 2014

OS ACESSOS DA JUSTIÇA

 

Julgo que é do senso comum, e qualquer iletrado perceberá, ser o acesso à Justiça um dos factores essenciais para a implementação da democracia. Coisa diferente é o acesso aos tribunais, um problema de engenharia e arquitectura já convenientemente regulamentado e inconvenientemente cumprido.

Se alguém se apresentar num tribunal e clamar por Justiça terá, antes de ser ouvido, de pagar o valor preparatório das custas. Depois deverá adquirir, a preço de ocasião, um bom sofá para que a espera o não canse.

Hoje discute-se a justiça (assim, com letra miúda) no parlamento. De um lado a senhora ministra defendendo, com o denodo que se lhe conhece, o fecho de uma série de tribunais, do outro lado os da oposição gritando para que não se feche tribunal nenhum, porque sabem que o povo os ouve e ficará convencido que se preocupam verdadeiramente com ele.

Trazidos à colação, os autarcas protestam, como é seu dever, porque o fecho de um tribunal prejudica a economia do café do largo e lá se vai o frontispício em latim que tanto brilho dá à terra.

Eu, que gosto de guardar uma distância respeitosa e larga de qualquer tribunal, onde só vou obrigado e contrariado, penso que o acesso à Justiça (agora com letra graúda) passa pela diminuição do custo dos preparos das acções e a celeridade das mesmas e não pela distância a um edifício onde a maioria da população nunca põe os pés.

Tivesse o memorando da troika exigido que, em nome da economia, se discutisse somente o essencial em vez do acessório para que não se distraísse o povo do que verdadeiramente importa, e talvez não sentíssemos tanto a canga que nos impuseram.



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