domingo, 31 de agosto de 2014

OS POLÍTICOS E A ARTE DE PODAR TODO O BUXO

De médico e de louco todos temos um pouco, já os políticos conseguem abarcar toda e qualquer profissão, arte ou técnica. Quando Malhoa pintou o seu quadro que intitulamos de “O Fado”, e que alguns crêem ver nele uma homenagem do pintor à canção popular de Lisboa apesar da realidade canalha ali retratada, sofreu não só a censura do fadista Amâncio como do próprio rei Manuel II.
Do Amâncio percebemos: O homem não gostava de ver o pintor desnudar os ombros e os seios da Adelaide, e o ciúme é democrático. Chega a todos. Quanto ao rei, este não gostou de ver os braços da Adelaide da Facada cobertos de tatuagens (a malta de agora não inventou nada) e obrigou o pintor a apagá-las excepto uma muito pequena que mal se vê. Isto cinquenta anos após “Le dejeuner sur l’herb” do Manet. Diga-se em abono da verdade que a mulher nua do quadro de Manet não tem nenhuma tatuagem que se veja pelo que não havia razão para Malhoa ser assim tão ousado, que raio!
Felizmente hoje os políticos já não se metem com mulheres de braços nus (nos quadros, evidentemente). Agora contentam-se com os jardins de buxo. Os jardineiros de Lisboa deixaram ao desmazelo os canteiros da praça do Império. O Zé Fernandes de Lisboa, em vez de repreender a empresa de jardineiros contratada, resolve eliminar os canteiros. Ouviu o parecer de técnicos? Do povo? Da Câmara ou da Assembleia? Para quê? Ele é o Zé que faz falta a Lisboa. Depois da fortuna que a Câmara, por sua culpa, teve de pagar pela paragem do túnel do Marquês, o infalível vereador poupa agora nos canteiros de buxo.
Sendo o quadro do Malhoa propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, esperemos que o inefável Zé não se lembra de mandar apagá-lo com o argumento que aquilo já não representa a canção da cidade, agora que virou património da humanidade. Ser a canção de Lisboa representada por uma prostituta com um chulo de nome Amâncio, não faz falta nenhuma...

sábado, 23 de agosto de 2014

O SILÊNCIO DO ISLÃO


           Quando Bento XVI, na sua aula em Ratisbona, citou o imperador Bizantino Manuel II, Paleólogo, esqueceu-se que na Pérsia já não havia homens eruditos como o que discutia com Manuel II.
            Que os muçulmanos tivessem ficado melindrados com a aula de Bento XVI compreende-se, embora deixassem a descoberto a fragilidade actual do pensamento das elites intelectuais islâmicas que, no meio do ruído gerado, perderam uma oportunidade para se fazerem ouvir. Quando estudantes e professores da Universidade La Sapienza recusaram ouvir Bento XVI demonstraram à saciedade que quer o Ocidente quer o Oriente não estavam preparados para o brilho e grandeza do pensamento de Ratzinger. A luz do discurso do Papa punha a nu a pequenez das elites intelectuais do mundo actual, e isso era-lhes insuportável.
            Nunca como hoje o Islão precisou tanto do pensamento brilhante dos seus intelectuais medievais. Se é porque os jornais calam o pensamento actual dos intelectuais islâmicos ou porque esse pensamento não existe, não sei, mas o silêncio do Islão perante os crimes que em seu nome se fazem é ensurdecedor.
            Face a esse silêncio resta trazer à memória as palavras de ouro de um do maiores pensadores ibéricos, um muçulmano do século XII, Ibn al Arabi, nascido em Múrcia, na actual Espanha e que um dia visitou Lisboa para se encontrar com Afonso Henriques, outro iniciado.
            Ibn al Arabi foi um dos maiores, senão o maior, mestres Sufi da península ibérica e encontramos ecos dele na poesia de São João da Cruz e no misticismo de Santa Teresa de Ávila. Ouçamos então o mestre:

“O meu coração abriu-se a todas as formas: é pastagem de gazelas, claustro do monge, templo de ídolos, a Caaba do peregrino, as tábuas da Tora e o sagrado livro do Corão. O Amor é a minha religião; qualquer que seja a direcção da caravana, a religião do Amor será sempre o meu credo e a minha fé.”

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Crónicas Gastronómicas V - OS CREPES DA SUZETE

 

Os famosos crepes suzette, invenção do grande chefe parisiense Escoffier fazem-se exactamente como qualquer outro crepe com uma ligeira diferença: o aroma a laranjas. Deixam-se cair do alto por uma peneira 110 g de farinha com uma pitada de sal. Faz-se um buraco no centro e deitam-se dois ovos inteiros e bate-se tudo muito bem com uma vara de arames. A seguir vai-se juntando lentamente uma mistura de 75 ml de água com 200 ml de leite, enquanto se mexe sempre muito bem. Quando tiver um creme fino, derreta 50 g de manteiga numa frigideira. Tire 2 colheres da manteiga e misture muito bem à massa. A restante manteiga reserve para lubrificação da frigideira que se fará com papel de cozinha. Termine a massa com uma colher de sopa de açúcar e a raspa de uma laranja média.

Numa frigideira de 18 cm de diâmetro bem quente vá deitando pequenas porções de massa. À medida que vão cozinhando, vire os crepes com cuidado ou então tenha a coragem de os virar atirando-os ao ar se não estiver ninguém a ver. Dá para cerca de 15 a 16 crepes. Não esqueça de ir lubrificando a frigideira com papel ensopado em manteiga.

Pergunta o amável leitor ou leitora a razão da fama desta sobremesa. É que os crepes foram cozinhados em honra de Eduardo VII que já tinha entrado na crónica das Sandes de Alexandra, lembram-se? Tudo aconteceu em Paris onde o então príncipe de Gales ia com a mesma frequência que uma beata vai à missa cantada por padre jovem.

Paris vale bem uma missa, por causa dos crepes e não só, como dizia o rei de Navarra que lá se deixou assassinar sem dar um grito, porque aquilo era gente de outra têmpera.Por se tratar de uma crónica de culinária e de um blogue lido por famílias, não contarei aqui como se divertia o príncipe e as filles de joie numa banheira em forma de cisne coberta até acima com champagne no famoso Le Chabanais. Também não ouvirão contar que a famosa casa visitada por Mae West, Humphrey Bogart e Gary Grant, tinha uma cama encimada com o brasão da casa de Windsor. Muito menos me atreverei a falar da famosa cadeira, ou mais apropriadamente siege d’amour, que o bordel, perdão, maison de tolerance, mandara construir propositadamente para as façanhas acrobático/amorosas do príncipe, que fariam corar de vergonha as páginas do Kama Sutra.

Se o príncipe gostava de se divertir, não gostava menos de comer e Escoffier lembrou-se de uma manteiga aromatizada com laranja para os singelos crepes. Misture 150 ml de sumo de laranja, raspa de uma laranja média, sumo e raspa de um limão pequeno, 1 colher de sopa de açúcar e 3 colheres de sopa de um bom cognac, que isto é receita de príncipes. Na frigideira derreta 50 g de manteiga sem sal, deite com gentileza a mistura de sumos e deixe aquecer lentamente. Vá pondo os crepes, um de cada vez, sobre esta mistura para os aquecer e ensopar, vire-os ao meio e outra vez até ficar um triângulo. Encoste o crepe à borda e vire a frigideira para que escorra o líquido para a outra borda. Retire e coloque o crepe no prato aquecido. Repita para cada crepe.

Depois de todos os crepes estarem em seus pratos coloque-os na mesa. E agora, com o pensamento na banheira cheia de champagne e naquela cadeira que o príncipe usava, seja ousado/a. Retire a frigideira do lume, deite-lhe dentro mais um pouco de conhaque e leve de novo ao lume a aquecer o álcool. Vire um pouco a frigideira de modo a pegar fogo ao brandy e assim, com tudo a arder e com o Credo na boca, vá deitando as labaredas de fogo sobre os crepes em seus pratos. Mas pelo amor de Deus não se queime, que isto de bordéis e flambés o importante é a gente não se queimar.

Tinha o príncipe enorme bom gosto, valha-nos isso, pelo que ficou horrorizado quando o chef quis chamar à sobremesa: Crepes Eduardo! Para sorte da humanidade em geral, e dos crepes em particular, passava no local uma jovem e bonita vendedora de violetas de nome Suzette...!

Champagne, manteiga a lubrificar, siéges d’amour, príncipes, flambés, e violetas, e mais as vendedoras delas… olhem, eu vou ali comer um gelado e já volto, que a Suzete está a fazer-me sinais.



sábado, 9 de agosto de 2014

PÓS ULISSES DE JOYCE

 
De manhã levantei-me fui à casa de banho que por acaso fica dentro de casa e fiz oquetinhadefazer. Dei de comer aos gatos e fui às compras mas com a mulher que eu não sou parvo! Não gosto de rim ao pequeno-almoço e fiquei-me pelo muesli. Não fui ao enterro nem ao nascimento de ninguém e voltei logo para casa. Reguei os tomateiros e a minha filha pôs um like num texto meu do facebook o meu filho não deu sinal.
Ouvimos ópera no canal Mezzo e quando me deitei não exigi o pequeno-almoço na cama. Ele há coisas melhores para fazer na cama.
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Ele regou os tomateiros mas foi a única coisa que fez no quintal tá bem abriu duas covas para dispor os pés de couve-galega mas de resto não faz nenhum em casa e eu é que sou uma escrava que faço tudo enquanto ele se senta ao computador ou no sofá a ver não sei o quê naquela televisão depois diz que lhe doem as costas e eu é que tenho de me ralar para ele vir para aqui postar estas porcarias.
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O que querem? Ninguém me leria se contasse isto em 730 páginas… depois as Caldas não são Dublin e falta-me o génio de Joyce.



sábado, 2 de agosto de 2014

UM IATE DE LUXO

 
Foi notícia na televisão!
Um iate de luxo aportou em Vilamoura no Algarve. Com helicóptero incorporado! A bordo, um príncipe Árabe. Do petróleo. Em demanda do sol e calor algarvios foi a terra, às compras na marina de Vilamoura.
            O Sol, soberano imperador e rei absoluto não se incomodou em espreitar-lhe o iate, o helicóptero ou as compras. Nem mandou fechar a rede de rega grátis dos campos de golfe algarvios.
           Confesso que fiquei muito mais descansado!