segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O BORDEL EM QUE ISTO SE TORNOU


São os centauros figuras mitológicas que se dividem por duas famílias: os que são brutos e insensatos e os que, ao contrário, são bondosos e guerreiam pelas justas causas. De qual destas famílias saiu o que representa o Banif é coisa que o leitor terá de julgar, por si, sem ligar ao burburinho das virgens ofendidas que por aí vai, fazendo lembrar aquele ditado português: chegou a honra à casa das pxxxs.
Na história do Banif cozinham-se, mais uma vez, os negócios com a política. No caldeirão aparece a Guiné Conacri que é parceira de Portugal na comunidade CPLP. Luís Amado é o presidente do Conselho de Administração e, na altura, não viu motivos para a resistência da entrada daquele país na comunidade da nossa língua e nem no Banif. Antes que comecem a inventar bodes expiatórios, lembro que Luís Amado foi ministro da defesa e dos negócios estrangeiros de Sócrates, que negociou com Khadafi e que fez o frete de assistir em Trípoli à festa que este ditador fez na Líbia para comemorar a sua revolução, e onde não faltou a Força Aérea portuguesa para abrilhantar. Dois anos depois a Europa e Portugal festejavam a morte do desgraçado. Longe vai o tempo em que os homens de Estado falavam de honra pelo mérito da acção, como no episódio final da Batalha do Salado que também mete mouros, portugueses e castelhanos que, como os centauros, também são matadores de touros.
Por uma última vez os mouros invadiam e atacavam a Espanha. O rei espanhol chamou em seu socorro o sogro, Afonso IV de Portugal. O rei português não se dava com o genro que lhe maltratava a filha, mas em nome dos valores que urgia defender foi em auxílio do rei espanhol tendo as tropas portuguesas sido decisivas para a vitória desta aliança ibérica. Estas empreitadas custavam (e custam) muito dinheiro e a forma de as pagar vinha do espólio rico que os derrotados deixavam no campo de batalha, uma vez que naquele tempo ninguém se apresentava diante da vida e da morte de camuflado, mas vestido com as melhores grifes e jóias. Afonso XI, humilhado pela ajuda decisiva do sogro, foi generoso e ofereceu a Portugal a primeira escolha, em qualidade e em quantidade, do espólio riquíssimo do campo de batalha. Afonso IV, orgulhoso, recusou. Instado, acedeu a ficar com uma simples mas luxuosa cimitarra e com o sobrinho do rei mouro (prisioneiro de alto valor de troca).
Isto foi no tempo em que Portugal era “mulher honrada” e a palavra pública adjectivava a res publica não se transformando como hoje em substantivo sem carácter. Como disse Rodrigo Moita de Deus, falando destas coisas num programa televisivo, hoje somos como prostitutas a quem o cliente nem se dá ao trabalho de pagar.
O favor com que mais se acende o engenho
Não nos dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

In Lusíadas (canto X – 146), Camões

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

CRÓNICAS GASTRONÓMICAS IX - LENTILHAS ou o conflito do Médio Oriente explicado à mesa!

LENTILHAS, ou o Conflito do Médio Oriente explicado à mesa!


          Em época natalícia fica sempre bem falar de comida. De comida e de história ou estórias. Para que o Natal chegasse conta-nos o livro do Génesis, o primeiro e mais interessante da Bíblia, as origens da família, tribo e nação de José e Maria. Descontados o Adão, o Noé e todos os patriarcas mais mitológicos, comecemos a história com Abraão que é considerado o pai dos povos. Dos semitas, pelo menos: árabes e judeus. Da história das pessoas faz também parte a história da comida e embora Abraão fosse mais pastor que agricultor, já nesta época e local se consumia a lentilha, uma das primeiras leguminosas a serem “domesticadas” no Médio Oriente. Mas, como todas as histórias, convém começar do princípio.
Teve Abraão dois filhos (que se soubesse), e por esta ordem: Ismael e Isaac. Ismael era filho de uma escrava e Isaac da legítima que também era meia-irmã do marido (razão tinha o Saramago que a Bíblia não é livro recomendável). Zangaram-se as mulheres e Abraão viu-se obrigado a expulsar Ismael e sua mãe para o deserto. Ficou Isaac que casou, já homem feito, com Rebeca que teve gémeos. Logo no ventre da mãe as crianças se agitavam uma contra a outra prenunciando o que por aí vinha. Esaú nasceu primeiro e logo a seguir Jacob que segurava com força os calcanhares do irmão. Esaú era ruivo, peludo e muito macho, passando o dia em caçadas: era o preferido do pai. Jacob era tranquilo e efeminado preferindo a companhia das mulheres, tendo ganho o favor da mãe. Nas tendas do mulherio aprendeu a cozinhar, e ganharia duas estrelas Michelin se elas já tivessem sido inventadas à época.
Um dia regressava de uma caçada, Esaú, o primogénito, cansado e cheio de fome. Ao passar junto à tenda do irmão, inebriou-se com o cheiro do guisado de lentilhas que Jacob, de malícia, preparava sabendo que o irmão não resistiria. Pediu Esaú de comer a Jacob e este que sim, mas primeiro que lhe vendesse o direito de primogenitura. A fome é má conselheira, já se sabe, e Esaú vendeu por um prato de lentilhas a herança de seu pai (diz o texto sagrado, que ainda se acrescentou um bocado de pão…). A história teve mais desenvolvimentos com um gostoso ensopado de cabrito pelo meio, feito ainda por Jacob, dessa vez para enganar o pai Isaac. No fim Esaú viu-se forçado a abandonar a tribo e buscar refúgio junto dos filhos do tio Ismael que fora expulso para o deserto como eu já tinha contado. Por lá casou e fundou a nação árabe, enquanto Jacob fundava a nação judaica. E cá estão as lentilhas como culpadas do conflito que ainda hoje grassa naquela parte do mundo.
São as lentilhas muito importantes e saudáveis (embora por causa delas tenha morrido muita gente). Podem ser escuras, verdes ou alaranjadas. Na Bíblia, Esaú chama ao guisado do irmão, guisado vermelho, pelo que Jacob deve ter preferido as avermelhadas, não por questões ideológicas mas por serem mais sedutoras, digo eu.
As lentilhas não precisam de ser demolhadas. Lavam-se bem e num crivo escolhem-se e limpam-se de impurezas e pedras. Cozem-se no dobro da água, escorrem-se e depois é usá-las como em qualquer guisado de feijão, ou na sopa. Caprichem no refogado de cebola e alho, especiarias, sal e pimenta, cenoura, tomate, etc. Podem pôr chouriço mas não digam nada a judeus nem a árabes, que ao menos nisso estão de acordo em serem do contra. Coloquem o vosso esforço e toda a alma de forma a comprarem, senão um reino, o coração de quem vai saborear as lentilhas. No Brasil, Chile e Venezuela comem-se na Véspera de Ano Novo porque acreditam que traz fortuna!
Bom apetite e ofereçam o guisado sem esperar nada em troca. Lembrem-se que é Natal!

sábado, 12 de dezembro de 2015

SERIA CÓMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO

VIDA SOCIAL
Milionário diz que não violou. Caiu por cima da moça e penetrou-a sem querer. Coisas que acontecem quando os anjos caem. Isto dito no Advento até parece heresia, valha-me Santo Ambrósio!

PRESIDENCIAIS
Candidato do eixo linha de Cascais/Suíça, passando pelo Campo Grande, fala com ternura do Minho que lhe corre nas veias e que ele, nas férias, contemplava das janelas do solar da família, enquanto crê que a Educação é o motor da Liberdade. Que no século XX o país com as elites mais cultas e educadas da Europa tenha, in null komma nichts, mandado às malvas a Liberdade, não parece preocupar o culto e educado candidato dos Suevos. Entretanto o inventor da Vichyssoise ganha terreno entre gente inculta e mal-educada por excesso de televisão. Belém continua a ser uma miragem para as mulheres!

ADVENTO
Estamos naquela época onde Amor tropeça nas escadas rolantes dos centros comerciais. É o Inverno que começa, a luz que volta, a família que se junta, as prendas. Mas há ainda uns patuscos que teimosamente comemoram o nascimento de um menino nas palhinhas de uma manjedoura! Nada que preocupe uma Europa que se descristianiza convencida que assim se torna na utopia do Imagine do Lennon, só para descobrir, pasmada, que o Tau pagão e depois cristão facilmente se substitui pela meia-lua. O Povo nunca dispensou os símbolos que os intelectuais, cegos pelo encandeamento das suas luzes, julgam desnecessários.

EFEMÉRIDE
Hoje faz anos o Frank Sinatra. Cem anos. Ainda bem que nasceu.


sábado, 28 de novembro de 2015

A COR DO GOVERNO


     Preocupar-se alguém com a cor dos ministros, seja para o acinte disfarçado de coolness, seja para a defesa das minorias com tiques de movimento nacional feminino, traz-me à memória aquele sketch da televisão inglesa em que um gay exuberante grita aos quatro ventos a sua condição de “único gay da aldeia”, constantemente desmentido pela realidade. Who cares?
      Vem isto a propósito da nomeação de uma ministra negra, uma ministra cega e um ministro de ascendência cigana. A ministra cega talvez causasse alguma perplexidade, e depois curiosidade, entre a população, pois nunca se “viu”, apesar de a maior obra literária mundial ser de um cego. Quanto ao ministro “cigano” ninguém daria por ele não fosse o caso de gostar de se afirmar como tal, um pouco ao jeito do “gay da aldeia”. A ministra da justiça, ao contrário da personagem da série que citei, é uma mulher circunspecta e pouco dada aos holofotes e às luzes da ribalta. Julgo que ninguém da população pestanejou sequer com a sua nomeação. No entanto, alguns jornais, estrangeiros até, gritaram aos quatro ventos a circunstância de ser negra. Uns exaltando a justiça que foi feita, outros com observações acintosas. O primeiro ministro apanhou por tabela pois a circunstância de ser de origem indiana torna-o num não branco, não se fazendo caso das classificações racialistas do século passado que incluíam os indianos no grupo dos caucasianos. Contra as invectivas insultuosas terçou armas a esquerda bem pensante. Foi pior a emenda que o soneto. Não conheço nada mais insultuoso que a complacência dos bens pensantes (a melhor resposta que vi ao Tintin no Congo não foi a sua proibição, mas um cartoon em que um enorme negro sodomiza o pequeno jornalista. Se fosse eu que mandasse, o Tintin no Congo seria sempre vendido desde que incluísse a oferta daquele cartoon).
       Os negros são de Lisboa muito antes da vinda dos retornados. As confrarias de negros de Lisboa remontam ao século XV. Filipe I de Espanha apreciava ver, do paço da Ribeira, os negros de Lisboa. Gil Vicente tem numa negra talvez a sua mais bem conseguida personagem. Na primeira ópera cantada em português, com o sugestivo nome de “A Vingança da Cigana”, um dos seus personagens é o negro folgazão de nome “Chibante”. A música é de Leal Moreira mas o libreto é de Domingos Caldas Barbosa, um mulato brasileiro filho de um branco de Portugal e de uma negra de Angola. E é este mulato que escreve um texto gozando o sotaque do negro da Guiné. Tudo isto no século XVIII entre os frequentadores de São Carlos, o sítio mais “branco” da cidade, e onde um século depois as damas lisboetas suspiravam pelo príncipe Godide, filho de Ngungunhane, que traz ainda descendência pelos Açores.
      O maior vulto das letras portuguesas do século XVII é um mulato, bisneto de uma negra: o padre António Vieira. O marquês de Pombal era neto de uma índia e a família real portuguesa descende do profeta Maomé e de judeus. Não é de origem etíope porque se gorou o plano de fazer casar D. Manuel I com uma princesa do reino do Prestes João. Podia afirmar, sem engano, que todos os lisboetas são mulatos, como os mulatos Almada Negreiros, Eusébio, Simone de Oliveira e o Cristiano!

       O escrutínio rigoroso da genealogia mais recente dos nossos ex-ministros evitaria o disparate de frases jornalísticas como: “até agora foram sempre brancos”…! Uma ministra de nome holandês e de cor negra, no governo de um goês, só pode causar espanto, desagrado ou euforia, a quem desconhece a existência de imperadores romanos negros, a história de Portugal ou nunca ouviu falar de Afonso de Albuquerque. Parafraseando Morgan Freeman, digo que a História dos Negros é a História de Portugal.

domingo, 22 de novembro de 2015

INCERTEZAS DE UM PRESIDENTE BIZANTINO

A futilidade de manter um blog activo manifesta-se com toda a crueza em momentos como este. O mundo está em profundo estado de transformação e a sensação de que algo muito importante está a acontecer sem que ainda saibamos o que é e quais as suas consequências, limita-nos a escrita. Não posso, no entanto, deixar de manifestar que, perante a grandiosidade dos acontecimentos recentes, saber quem será o ministro que nos vai cobrar os impostos é-me absolutamente indiferente. Haver alguém em Belém que arrasta em demasia o processo, entre repastos de bananas, parece-me um exercício grotesco de auto glorificação demasiado bizantino para o meu gosto.
No estupor em que fico, agravado pela eliminação do Benfica da Taça, encosto a cabeça à janela para ouvir a música da chuva tarimbolando nas vidraças, e descubro que hoje é o dia de Santa Cecília, padroeira da música. Por isso, à falta de melhor prosa, aqui deixo a belíssima escultura de Stefano Maderno que tive ocasião de ver, junto ao actual túmulo de Cecília na basílica de seu nome construída sobre a sua casa no bairro romano de Trastevere. A escultura representa a forma como o seu corpo incorrupto foi encontrado nas catacumbas de São Calisto 1400 anos após a sua morte. Cecília foi martirizada por ser cristã. Depois foi decapitada, “benesse” concedida por ser patrícia romana.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O MINISTRO, DEUS E O DEMÓNIO


Não é segredo para ninguém que Deus nem sempre é nosso amigo. A prova está no ministro Calvão da Silva que o afirmou, ali frente às câmaras da TV. Homem culto (é professor catedrático da Universidade de Coimbra), leu certamente o extraordinário livro de Job onde se conta que Deus autorizou o Demónio a atormentar o pobre Job que, fiel e cumpridor, nada fizera para desmerecer a amizade divina. Ora se Deus permitiu que o Demónio atormentasse a paciência do pobre e bondoso Job porque não haveria de permitir que todo o exército demoníaco fosse atormentar os pobres algarvios que à revelia de todo o bom senso destruíram a criação de Deus para recriarem um purgatório turístico? Na verdade, Deus permitiu que o Demónio abrisse as torneiras do Céu mas convenhamos que a culpa da inundação é todinha humana, isto se considerarmos humanos, os decisores políticos que permitiram a destruição de uma zona que era da ribeira e, por assim dizer, criação divina.
Isto de Deus andar mancomunado com o Demónio para nos atormentar teve o lindo resultado de vir agora o ministro aconselhar à feitura de seguros, que todos sabem ser coisa demoníaca, e que não devemos, nós, pobres crentes, confiar na amizade divina, o que para mim soa a blasfémia, para não dizer heresia. A fazer as vontades ao Demónio, não Lhe calhe fazer a vontade a Antero de Quental e autorizar que o Demónio incendeie a Universidade de Coimbra na esperança que assim consiga alumiar alguém, ou pelo menos o ministro que é professor. É que o ministro a gente ainda aguenta porque é por pouco tempo, agora o professor catedrático!? É que nem toda a paciência de Jó!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

COM O CAIR DA FOLHA, CAI-NOS A FACE


Um jornal foi proibido pelo tribunal de noticiar sobre o processo de um famoso. São coisas que nos aparecem com o cair da folha, que em português se chama outono e que se segue ao verão a que também chamamos estio, enquanto as outras estações continuam, na nossa língua, só com um nome. Em inglês também é assim (nas outras línguas não sei e agora não me interessa). É assim em inglês mas não em relação ao verão, que é só verão, como inverno é só inverno e primavera é só primavera. Já o outono tem, em inglês, dois nomes. Tal como o verão em português. Queda, é o que os ingleses chamam ao outono: Fall, a queda.
Assim os portugueses têm dois nomes para denominar o tempo mais alegre, enquanto os ingleses têm dois nomes para o tempo mais tristonho. E é assim que um povo triste chama duas vezes pelo tempo risonho e um povo cheio de sentido de humor diz que o outono, esse tristonhar do tempo, é a queda!

Ao que o outono nos traz os ingleses chamam censura, nós chamamos-lhe: regular funcionamento da justiça. E assim, com o cair da folha, cai-nos também a face. Deve ser por isso que os ingleses chamam Fall, ao outono!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ROMA


“Os sentidos do nosso corpo abrem-nos à presença de Deus no instante do mundo”, diz Tolentino Mendonça, e Roma desperta-nos todos e cada um dos sentidos enquanto Deus nos espreita do alto da cúpula que é de Bramante, mas também de Rafael e de Miguel Ângelo.
Em Roma o cheiro do incenso confunde-se com o do prosciutto e do pomodoro, enquanto os sinos harmonizam com o ruído aparentemente caótico do trânsito que não merece um único rasgo de impaciência à matrona que aproveita o semáforo para retocar a maquilhagem que vemos no rosto patrício. Mas é o espírito que transforma a matéria daquela pedra em carne de Proserpina que as mãos rudes de Plutão apertam e apalpam, e é Verão e Primavera, e é Outono e Inverno por causa disso.
Ide ver o pé desnudo de santa Teresa que cupido (e Bernini), disfarçado de anjo, leva ao paroxismo de um êxtase. E que dizer (ousadia de Rubens) de santa Madalena pegando a mão de um Cristo morto. Ressuscitará o Senhor ao ver-lhe o seio desnudo? Heresia?! Heresia seria não ver o céu do panteão e não afagar a pele sensual daquela incrível colunata onde o olhar joga às escondidas com a extravagância de um guarda suíço, ali, onde o Santo Padre canta em latim, enquanto babamos, deliciados, a pizza quente e picante saída do forno.
Se a beleza ordenada do palazzo Farnese nos lembra a sensualidade pecaminosa dos Bórgias, lá está Caravaggio usando a luz que vence as trevas gritando de dentro do barroquismo das igrejas: O que querem? O mundo é carnal, enquanto a cabeça de Golias nas mãos de David acrescenta: e tridimensional!
Afinal o que é Roma?... Apesar da idade das pedras do Palatino, é ainda o adolescente que se oferece com um cesto de fruta.

Imagem: “rapaz com cesto de fruta”, de Caravaggio, galeria Borghese, Roma

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

ANÁLISE PÓS ELEITORAL


            Fica bem nesta altura, e após ter aconselhado os meus leitores a votarem, fazer aqui a análise eleitoral que se impõe.
            Devo dizer que passei mal a noite e estou seriamente preocupado com a minha vista. Preciso de comprar óculos novos, tá visto, mas o certo, certinho, é que não consigo vislumbrar naquela lista enorme que o CNE publicou, o lugar em que o partido em que votei ficou. A Maria não fala nem diz nada mas eu quer me parecer que está com o mesmo problema.
            O Povo, esse, foi sábio: entre uma coligação que prometia austeridade e um PS que austeridade prometia, escolheu quem tinha mais experiência. É avisado, devo dizer. O camarada Jerónimo disse que tinha conseguido derrubar a direita e eu não atino com a matemática nem com a máquina de calcular a tentar perceber onde é que o PCP encaixou os votos que roubou à coligação. Quanto ao bloco já diz o meu paizinho:- Não te metas com as mulheres que elas conseguem tudo o que querem!
            Agora o que me traz mesmo preocupado, muito mesmo, foi a atenção com que o Xico e o Jabir seguiram as projecções e o escrutínio. Já os vejo a conferenciar pelos cantos e receio bem que em breve aparecerá por aí um caderno reivindicativo. Eu até acho que já os ouvi sussurrar que vão pôr o problema ao deputado (o deles, pois está claro!). Mas se eles já põem e dispõem de tudo cá em casa o que mais vamos ter de ceder?
(Eu espero que eles percebam que aquilo que aconteceu no veterinário é irreversível… )

sábado, 26 de setembro de 2015

QUEM LEVA O MEU VOTO?

Este é um blog sério com responsabilidades sociais, pelo que, em plena campanha eleitoral, não posso deixar de vir partilhar com os meus leitores a minha reflexão para as eleições, com a recomendação de que não deixem de ir votar. Mas em quem?

A Coligação já sei o que é, e o PS é igual (a diferença entre o PS e a coligação é a mesma que vai do MacDonalds ao BurgerKing). Haverá alternativa? Ora deixa ver…
PCP = Pangloss
Vivemos no melhor dos mundos possíveis e basta o voto no seu programa para voltarmos a ver um Portugal ridente. Desde o fim dos cortes ao estonteante salário mínimo de 600 euros, está lá tudo. Temo bem que esta será a promessa não cumprida se o PCP ganhar. Ora vejamos: O PCP quer de volta o escudo. Supondo que o PCP não é parvo de todo, aumentará o salário mínimo para os 600 euros e só depois é que nos tira do Euro. O salário convertido em escudos valerá então o quê? 200 euros?!
Depois temos a reindustrialização do país. Lindo. É só querer e a obra nasce, já dizia o poeta.
Travar a emigração de jovens qualificados, diz o programa: aqui, confesso que me arrepiei. Não vislumbrando no programa a criação de novos empregos, só vejo uma maneira de travar a emigração: construir um muro em volta da fronteira. Será que o PCP está assim tão nostálgico das velhas práticas?!
Combater o trabalho ilegal: oh, meu Deus, lá se vão as feiras no país.
Reposição dos feriados (é barato e deixa-me contente);
Reposição do horário na função pública (os gastos podem ser compensados com alguma poupança na luz), fiquei quase convencido!
- Maria - grito,- vamos ser comunistas!
Espera! O que é isto? O novo aeroporto e a travessia Chelas/ Barreiro? Não! Não e Não! Estraguem tudo o que quiserem, tirem-nos tudo, agora na vista da colina do castelo é que não tocam! Ide fazer a ponte para Oeiras ou ponham o comboio ao lado da Vasco da Gama e dêem-lhe o nome do Cunhal se quiserem, mas ali, ao lado de Alfama, não!
 LIVRE
O programa parece um power point para uma candidatura aos financiamentos europeus. Grandes ideias sem nada de concreto.
Regiões? Não muito obrigado.
1% para a cultura? Têm todo o meu apoio quando me definirem os objectivos e orientações para o ministério da cultura.
 Casais do mesmo sexo, migrantes e deficientes tudo à molhada? Haja decoro!...
Renegociar, reduzir, aumentar, reorganizar, tudo verbos sem qualquer sentido se não acrescentarmos o como, como, como!
O Livre é um saco cheio de personalidades prisioneiras do seu enorme ego. Livra!
BLOCO DE ESQUERDA
Mais um excelente power point. Já não tenho pachorra… nem a segurança rodoviária os salva embora, confesso, o meu lado danado para a brincadeira tenha ficado curioso com os gays, lésbicas (homossexuais chegava mas se podemos ter dois porque usar um? Já dizia D. João V), bi-sexuais e trangender… Tivessem uma 5ª opção sexual e levavam o meu voto. É que eu, em matéria de sexo, sou pela quantidade!
(a segurança rodoviária num programa eleitoral? Eles não se esqueceram de nada, meu Deus)
PDR
PDR, PDR, PDR, deixa cá ver… não! Não se encontra o programa eleitoral no site… mas também quem tem Marinho Pinto não precisa de mais nada!
Quase me convence. Gosto da malta prá frente que depois logo se vê! Só não voto neste porque não quero deixar de ver o Marinho Pinto como comentador televisivo!
Mas em quem é que eu hei-de votar? No MRPP? Mas se eles se acagaçaram com o mote de “MORTE AOS TRAIDORES”.
Já nada é como antigamente…

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DE REFUGIADOS


O homem chamava-se José, podia ser português mas não era, e a sua mulher tinha acabado de dar à luz um filho. Quem mandava na sua terra decidiu um dia mandar matar todas as crianças do sexo masculino. O horror era indescritível. Os soldados agarravam as crianças pelas pernas ou pelos braços e degolavam-nas perante o grito alucinado das mães. Algumas abraçavam-se de tal modo aos filhos que se tornava impossível retirar-lhes as crianças e eram então mortas juntamente com eles. Um horror nunca visto. O mesmo horror que vemos nos noticiários das televisões mas que, por tão repetido, nos entorpece fazendo com que nos pareça banal.
José sabia que mais cedo ou mais tarde chegaria a vez do seu filho e fez o que qualquer pai no seu lugar faria. Fugiu com o menino e mais a mãe que se chamava Maria e podia ser portuguesa mas não era. Tomaram a direcção do Egipto, muito contra a vontade de Maria que alvitrou Portugal como destino de refúgio. José disse-lhe que nem pensar. Podiam ter-lhe feito rainha e padroeira, levar a sua imagem de porta em porta, postar no facebook fotos dela acompanhadas de músicas ternurentas, mas isso é porque a julgavam no Céu a fazer milagres. Chegasse ao pé deles assim toda suja e rasgada e veria como lhe fechavam a porta na cara. Não, o Egipto era mais seguro e mais perto.
A fuga através do deserto foi difícil pois além do calor havia soldados por todos os lados. Só conseguiram escapar porque uma pequena e esvoaçante lavandeira, voando em redor deles, poisava no caminho e com a cauda e com o bico vassourava-lhes as pegadas, o que fez com que Maria a abençoasse. Foi com grande sofrimento que chegaram à fronteira do Egipto e logo se levantou, por tudo quanto é rede social, um grande clamor contra a sua chegada.
Que era um grande perigo receber aqueles judeus foragidos, diziam, que logo a seguir viriam outros e mais outros. Os mais preocupados com a situação dos pobrezinhos da sua terra diziam que não, que fossem para outro lado ou que aguentassem na sua terra, porque eles tinham os seus pobres, os seus sem abrigo e para fazer caridade já lhes chegava o que tinham em casa que a vida está má para todos.
O pior foi quando apareceu um mais intelectual e começou a escrever no facebook: Nem pensar em os receber. Então já se esqueceram do que essa gente é capaz? Foi a um judeu como eles, que até se chamava José como este, que os nossos antepassados deixaram vir para cá porque era perseguido pelos irmãos que o queriam matar. Logo que se viu instalado mandou vir a família toda e o que é que nos aconteceu? Foram as pragas do Egipto, os gafanhotos que comeram as searas, as rãs que empeçonharam as ruas, e o sangue que envenenou as águas, os piolhos, a sarna, o granizo… e não contentes com isto, um dos seus terroristas, um tipo chamado Moisés, ajudado pelo anjo do Senhor, matou todos os primogénitos do Egipto. Foi uma sangueira nunca vista e vocês agora querem recolher esta família de judeus, para que vos aconteça o mesmo? Eles que se amanhem.
A lembrança das patifarias que o Moisés tinha feito no Egipto foi como que o golpe final. A pobre família de refugiados já se preparava para voltar sabe-se lá para onde. José começou então a preparar uma pobre e desconjuntada jangada para se meterem ao Mediterrâneo, mas o burrito recusou-se a enfiar-se em tal casca de noz. Foi quando um guarda da fronteira, abrindo a cancela, os mandou entrar.
Quem mandava no Egipto era pessoa fina, educada nos melhores princípios do classicismo grego, herdeira do sonho de Alexandre, O Grande, que queria um mundo sem fronteiras. Decidiu que o Povo murmurava sem razão e que a família de refugiados que se instalasse e que nada lhes faltasse. Os pobres certamente não ficariam pior já que havia tanta gente disposta a olhar por eles, escreveu ele no twitter.
Maria, com o menino ao colo, chorava comovida reclinada sobre o peito de José que, acariciando-lhe a cabeça, disse:

- E querias tu ir para Portugal. Assim que te vissem descalça, suja e desamparada, nem te deixariam pôr o pé em terra. Com alguma sorte deixavam-te poisar sobre os ramos de uma azinheira!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A PORNOGRAFIA DA SOLIDARIEDADE

Por pudor não tenho trazido para aqui o drama dos refugiados que acorrem à Europa. Também por pudor sinto sempre alguma vergonha quando dou uma esmola. Independentemente dos meus pruridos aquela esmola é bem vinda por quem a pede, mas a esmola é sempre pouca e eu podia fazer mais e melhor daí o meu desconforto.
Tenho a certeza que a maioria de nós não se moverá do sofá para ir em socorro dos refugiados. Mas também tenho a certeza de que a maioria de nós, passeando de barco, deitaria a mão a quem quer que fosse que se estivesse a afogar. Não haveria nesse gesto nada de heróico ou louvável. Seria simplesmente um acto que nos distinguiria como humanos. O contrário seria uma monstruosidade, punível até pela Lei de qualquer estado de direito. No nosso código penal é punível com pena de prisão até um ano.
Pessoas bem situadas na vida, passeando de barco pelo Mediterrâneo, salvaram uma vítima de afogamento com quem se cruzaram no passeio. Um refugiado caído à água. Tiraram uma foto abraçados à vítima e colocaram em tudo o que é rede social. Depois receberam louvores de heroicidade e de solidariedade por um gesto que, repito, é obrigatório num estado de Direito. Pareceu-me uma obscenidade quase pornográfica. Quando a desgraça dos outros serve para o nosso aconchego do dever cumprido, devidamente publicitada, algo falhou nos nossos valores. Senti vergonha por aquela foto.

Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita.

Mateus 6,3

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

FOMOS A CEUTA. E DEPOIS?


Ceuta foi um disparate! Correu bem ao princípio mas foi um disparate e faz hoje 600 anos que D. João I conquistou a praça africana e ainda não ganhámos juízo. O que nos fez rumar a Ceuta, trinta anos depois de Aljubarrota, é ainda tema de discussão e debate. A cidade era tão grande como Lisboa e riquíssima, o que à partida podia justificar a coisa. Por ficar na base de uma das colunas de Hércules, separando o mundo antigo do mundo novo, foi azo a que todas as teorias sobre a gesta dos descobrimentos se abrissem à discussão. Muitos disparates se disseram e muitos se hão-de ainda dizer. Ficou assim a modos como a mística para o Benfica!
O país estava em crise e com falta de dinheiro (onde é que eu já ouvi isto?) e o ministro das finanças da altura, João Afonso, teve a ideia de irmos pilhar Ceuta. Convenhamos que sempre é melhor do que pedirmos ao FMI que nos venha pilhar a nós. Podia ter escolhido Granada que também era terra moura e na Europa mas encontrava-se no território de caça castelhano e não convinha. Resolvia-se assim a crise financeira do país com uma grande empreitada pública o que demonstra que o bloco central já governava o país na altura, e nunca deixou de o fazer.
Diga-se em abono da verdade, e para fazer cócegas ao ego, que o empreendimento foi bem planeado e mantido em segredo, o que foi a chave para o sucesso, que na altura não havia facebook nem twitter. A arraia-miúda dos navios só soube ao que ia quando aportaram a Lagos, que ao tempo não era ainda destino para o divertimento dos portugueses.
Apesar de muito bem planeado não podemos deixar de considerar que aquilo foi a loucura total. Meter-se o rei com os três filhos mais velhos à briga com os mouros, deixando o país entregue às mulheres e crianças com os espanhóis acampados em Badajoz, é, sem sombra de dúvida, um grande disparate. Correu bem, mas podia ter sido o desastre.
Podia ter sido de outro modo? Podia, mas não era a mesma coisa. Se tivéssemos deixado ficar quietos com o país estendido aos areais do Algarve, era mais sensato mas talvez Portugal já hoje não existisse, se é que ainda existe. Quando nós não sabemos o que fazer com o país, vamos lá para fora, que é fórmula antiga mas que o governo actual também aconselha.
O disparate foi, contudo, sancionado e abençoado pela rainha a quem era devida a última palavra, que não é sem razão que as mulheres em Portugal têm bigode. Embora fosse a única com algum juízo, era adepta do Manchester United e, tal como o seu filho, o tripeiro Infante D. Henrique, não gostava de mouros. Quando se apercebeu do disparate finou-se a poucos dias da largada dos veraneantes o que fez temer pelo sucesso da expedição.
Se o plano foi bem gizado já o desembarque foi, como é costume entre portugueses, a obra prima da indisciplina e da falta de controle dos nervos que não somos jogadores de póquer mas de bola. Os mouros, que não contavam com tanto turista, puseram-se a fazer facécias na praia enquanto os portugueses ferviam dentro dos barcos. Venham cá se são homens, diziam os mouros, e o João Fogaça, que era homem com tudo no sítio, não vai de modas e atira um batel à água com um punhado de homens. Estavam os mouros ainda a meio dos salamaleques a receber os convidados e já Rui Gonçalves mandava uns tabefes a uns quantos. O príncipe D. Duarte, que ajudava o pai a vestir a armadura de gala porque um rei é rei e não põe o pé em África de t-shirt e chanatos, mesmo sendo verão, deixou o pai a braços com a cota de malha e faz-se a terra para a zanguizarra. O infante D. Henrique, moço ainda novo, temendo que não chegasse para ele manda tocar as trombetas porque não há arraial português sem foguetório e sem filarmónica, e desembarcam os portugueses todos à uma que é como quem diz, todos ao molhe e fé em Deus, o que levou D. João I, ainda sem os guantes calçados, dizer para o filho, o infante do meio – Ó Pedro, mas afinal quem é que manda aqui?!
Foi uma limpeza. A cidade era, como prometido, riquíssima e o esbulho valeu a pena. A mesquita foi consagrada a Nossa Senhora de Assunção e logo ali içaram nos minaretes os dois sinos que encontraram nos restos de umas lembranças que os mouros tinham trazido de uma visita que fizeram à feira de Lagos. Foi tudo tão rápido e animado que o alcaide mouro, o sensato e simpático Salath Ben Salath pôs-se ao fresco não sem antes dizer que estivessem à vontade como em vossas casas, o que muito decepcionou o Infante D. Henrique que queria uma selfie com o pessoal todo junto.
Quem foi a Ceuta enriqueceu mas depois é que foram elas. Um pouco como nós com a Europa. Ficámos ricos mas depressa chegou a hora de pagar. Aquilo para se manter era pior que a televisão pública e o país não aguentava. As caravanas africanas passaram a levar a mercadoria a outros portos e a cidade empobreceu. Os piratas berberes passeavam ao largo do Golfo de Cadiz divertindo-se com quem descia o Guadalquivir, e não entravam no Mediterrâneo. Por sua vez turcos e venezianos entretinham-se uns com os outros e não passavam ao Atlântico. Em Ceuta aborrecia-se de tédio e foi causa para que os macacos aproveitassem e passassem a Gibraltar. Foi um desastre. Soubemos lá ir mas não conseguíamos sair por vergonha. Os espanhóis acabaram por ficar com aquilo até hoje como fizeram com Olivença.
Fomos a Ceuta, e depois? Aprendemos alguma coisa? Acho que não.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O FARDO DE UM HOMEM

À memória das vítimas de Hiroxima e Nagasaki

“Descobrimos a mais terrífica bomba da história do mundo. Pode muito bem ser a destruição pelo fogo tal como foi profetizada na era do Vale do Eufrates, após Noé e a sua fabulosa arca.”
Entrada no diário de Harry Truman a 25 de julho de 1945

A 6 de agosto, doze dias depois do que escreveu no seu diário, Harry Truman vestiu as vestes de cavaleiro do apocalipse e cavalgou sobre Hiroxima. Viu a destruição e o horror que causou: O céu iluminado por uma enorme bola de fogo, temperaturas de 300 000 º celsius e ondas de choque capazes de derrubar edifícios que pulverizaram milhares de pessoas. Outros milhares morreriam devido às queimaduras e a chuva negra contaminaria outros tantos. Dezenas de anos depois continuavam a morrer. Os números são obscenos e não os coloco aqui.

“E, quando Ele abriu o sexto selo, houve um grande terramoto e o Sol tornou-se negro, como um pano de crinas, e toda a Lua ficou como sangue. As estrelas caíram do céu à terra, como os figos verdes caem de uma figueira sacudida por um furacão. O céu foi afastado, como um livro que se enrola e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares.” (Ap 6,12-14)

Três dias depois, a 9 de agosto, Truman não hesitou em cavalgar de novo, agora sobre Nagasaki. Quando bombardeavam o porto fundado por portugueses e que foi cenário para os amores do americano Pinkerton com a gueixa Butterfly, o presidente disse:

“Eu percebo o significado trágico da bomba atômica ... É uma responsabilidade terrível que chegou até nós ... Agradecemos a Deus que veio a nós, em vez de ir para os nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usá-la em Seus caminhos e para Seus propósitos.”

Harry Truman assumira a presidência por morte do então recém eleito presidente Roosevelt. Em 1948 ganharia as eleições pelo partido Democrata. Foi um excelente presidente. Reconstruiu a Europa e salvou Berlim, a Grécia e a Turquia. Promoveu o bem estar social dos mais necessitados do seu país e desculpou-se sempre com o número de mortes que evitou com as bombas.

Homens bons fazem, por vezes, coisas horríveis, monstruosas, tenebrosas e imorais. Tinha que as fazer? Esta é a pergunta a que todos, sem hipocrisia, temos medo de responder. Não tenhamos tanto zelo em acusar!

         

sábado, 25 de julho de 2015

COMO NÃO FALAR PORTUGUÊS


Há dias ouvi a um político, que outro político dissera uma “inverdade”. Percebi que teve medo que o outro se ofendesse. No mesmo nível de falta de alguma coluna vertebral está a frase: “com todo o respeito…”, que se diz quando se expressa opinião contrária, como se ter opinião fosse algo de que tivéssemos de nos desculpar. Tive saudades do tempo em que os políticos se batiam em duelo, e pensei que aquelas cenas de violência típicas de alguns parlamentos asiáticos, talvez fossem, afinal, uma boa forma de discutir opiniões em vez deste atropelo à língua para não ofender. Seja como for o político televisivo afirmou que o colega mentira.
É que a palavra “inverdade” não existe. Ou se diz uma verdade ou o seu contrário: uma mentira. Inverdade é língua de verme, animal sem coluna vertebral. Não é sequer um eufemismo, é só estupidez e assassinato da língua.
É assim que se vai matando a língua. Com a era informática o massacre agudizou-se. Não só pelos anglicismos inevitáveis mas pela confusão em distinguir o virtual do real. Tira-me do sério quando o computador e os colegas me pedem para “visualizar” o que aparece na pantalha. Que raio, nunca precisei de computadores para visualizar o que quer que fosse pois imaginação não me falta, mas sei muito bem ver o que me põem diante dos olhos. No computador vejo o que lá aparece, na minha cabeça, com a capacidade imaginativa, visualizo, até de olhos fechados, o parvalhão que entendeu substituir o ver por visualizar. E já não vou falar de “contratualizar”, outra inexistência, porque parto para a violência.
É uma gabela gentiaga que nunca saboreou o bordado de um Aquilino ou de um Camilo. À falta de riqueza de vocabulário, afofam-se e alçam o bestunto só porque “contratualizam” o alquilé das bestas. E assim, com a altivez e a ignorância ajoujadas, vão lendo os “aitâmes” do contracto. Pelo amor da santa! Quando é que vão perceber que item é latim e não inglês, essa língua de bárbaros? Insulta-se Séneca e Virgílio para fazer cócegas a Shakespeare.

Um dia destes, se me aparece uma seresma ou um taranta, a pedir-me que visualize um raio que os parta ou a inglesar o latim, mando-lhe com os guantes aos gorgomilos. Depois não digam que fui eu quem começou a zanguizarra!

sábado, 18 de julho de 2015

EM AGOSTO, DESGOSTO

O mês de Agosto é um mês aziago, e não é porque o acordo ortográfico obrigue a escrevê-lo com a inicial minúscula. Agosto é o mês de César Augusto, o primeiro imperador romano, e não se desse o caso de recusar o desacordo a que nos obrigam, era razão suficiente para lá colocar a inicial maiúscula. Não pelo imperador mas por Roma que foi a primeira ideia de Europa. Estamos em Julho que é do antecessor de Augusto, Júlio César, que nunca foi imperador mas deu o nome aos imperadores que se lhe seguiram: César, Kaiser, Czar ou Tsár, e logo, logo chega Agosto. Por isso fica o aviso.
Agosto é aziago, como já referi. Comprovadamente! Por exemplo, ninguém se casava em Agosto, porque os homens partiam para as viagens marítimas e deixavam as noivas suspensas em casamentos “brancos” o que era um grande azar, para a noiva e para o noivo. Depois o calor enerva e à falta de casamentos fazem-se guerras, como a primeira mundial que começou em Agosto seguindo-se logo a segunda também no mesmo mês. E mesmo aqui ao pé de nós, as batalhas da Roliça e do Vimeiro foram em Agosto o que foi um grande azar para os franceses, cuja rainha mandou matar os protestantes na noite de S. Bartolomeu, quando o diabo anda à solta em Agosto.
Foi em Agosto que Tito começou a destruir o Templo de Jerusalém, para azar dos judeus, e que se deitou a primeira bomba atómica sobre o Japão e se deu o desastre de Alcácer Quibir, onde os três reis envolvidos na batalha morreram. Cristóvão Colombo, um alentejano tão azarento que o tomaram por italiano devido ao sotaque, iniciou a sua viagem para o Ocidente em Agosto, o que foi um azar para os americanos.
Neste mês do imperador, inicia-se a construção do muro de Berlim, nasce Bill Clinton e a Gioconda de Leonard da Vinci é roubada do Louvre e, por azar, é encontrada, dois anos depois, em Setembro, tornando o museu numa perfeita nulidade porque os turistas não precisavam de tanto espaço só para verem um quadro. É muito azar junto.
Em Agosto a ópera ficou de luto por Enrico Caruso e foi encontrada morta a actriz Marylin Monroe. E o azar do mês de Agosto continua: em Portugal é criado, no século XIX, o ministério da Economia e Portugal nunca mais teve dinheiro nem economias. Mais de um século depois é divulgado o documento de Melo Antunes, apoiado pelo grupo dos nove, que diz que a economia não é comunista nem capitalista, talvez socialista… e sobre o dinheiro nada se disse. Ainda não é suficiente para acreditarem? Então levem com esta: em Agosto fundou-se a Confederação Suíça dando origem ao país mais chato do Universo. Acreditam agora?
O que fazer então? Pergunta-me o caro leitor, e eu respondo: Nada!
Se for do governo, para bem de todos nós, faça-se de morto e vá gozar férias para um sítio bem afastado, como por exemplo o Pacífico, e não se preocupe com tufões ou tsunamis. Evite as ilhas gregas que elas já têm azar que chegue.
Se não for do governo não faça nada, pela sua saúde. Em agosto deite-se à primeira sombra que encontrar e não mexa uma palha. Não faça rigorosamente nada e pode ser que o azar não dê por si. É aliás a única razão porque em Agosto se pagam fortunas em férias à beira mar: para morrer de tédio e afugentar o azar por inanição.
Vão ver como Agosto passa depressa, e com ele o azar. Em Setembro já não teremos crise, os Gregos rir-se-ão de tudo isto, e o Alberto João vai conseguir que alguém pague as despesas de Agosto.
A única coisa que é preciso é que não faça nada em Agosto. Senão sai asneira!
Boas férias.

                          

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Crónicas Gastronómicas VIII - É CANJA


        Correndo o risco de nos vermos todos gregos com a crise, não chega gritar ao vento que não somos iguais a eles. Manda o bom senso que usemos de cautelas. É que prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Julgo assim chegada a altura de escrever sobre um caldo a que chamamos canja e que nos veio da China, como quase tudo. E olhem que não foi fácil.
E agora saltam de indignação os meus queridos leitores perante a heresia de insinuar que o nosso amável caldo de galinha e arroz não é de origem lusitana. Mas não! A sua origem não é portuguesa. Foram os chineses, ou o velho povo Tamil, que a inventaram que já andam nisto há muitos e bons anos. Diz a tradição que, há quase cinco mil anos, o “filho do Céu” Huang Di, um dos primeiros cinco imperadores chineses, cozinhou a primeira congee (do Tamil kanji), tendo usado painço que é mais antigo que o arroz e o trigo. Por isso, meus caros leitores, da próxima vez que comerem canja não se esqueçam de a servir em digna loiça de porcelana, que também é coisa chinesa, porque o humilde caldo tem mais pedigree que a maior parte dos candidatos a marqueses que por aí vemos.
A congee ou kanji, um caldo de arroz quase em papa, chegou-nos a bordo das caravelas, como referiu Garcia de Orta, e talvez tenham sido os portugueses a introduzir-lhe as carnes e a aligeirar a textura do caldo, que não se anda a roubar pelo mundo fora só para comer arroz. Serão os portugueses a dar a conhecer ao mundo o caldo de arroz e frango aportuguesando o tâmil kanji para canja. Livrem-se portanto de fazer canja com “massinha” que isso é heresia capaz de nos lançar no fogo dos infernos. Os portugueses adoram, os ingleses chamam-lhe um mimo e o imperador do Brasil não a dispensava na ópera: que não se atrevessem a iniciar o 3º acto antes que sua Majestade terminasse de chupar o último osso da perna. ( – Assim que abrir a temporada, Maria, no lugar das bolachinhas ou dos rebuçados para a tosse, que não falte um tupperware com canja no camarote do S. Carlos. Tenho dito!).
Arthur Wellesley, o famoso duque de Wellington que venceu Napoleão, aprendeu a arte de comer e os modos de estar à mesa, em Portugal. Riquíssimo depois do saque indiano, conseguiu, à terceira tentativa, a mão da menina Catharine Pakenham que viria a ter papel importante na história da canja. Quando o famoso general britânico cá chegou, para expulsar os franceses, era já um homem abstémio, que reduzira o consumo de vinho a uma mísera garrafa diária, e um esforçado desportista que não dispensava o cross diário matinal de 50 metros frente à sua tenda. Ao desembarcar na foz do Mondego, Wellesley hospedou-se em casa do pároco de Lavos, cuja mesa encantou o irlandês (mesa de abade, já se sabe!). O desembarque foi complicadíssimo, devido ao mau tempo, e durou três dias, pelo que o senhor ficou assim a modos que mal encarado. Uma mulher do povo, talvez cozinheira do padre António de Macedo, ofereceu-lhe uma canja de tal modo saborosa que o general, pelo seu próprio punho, escreveu a receita e enviou-a à esposa (há quem diga que foi a um amigo e não à esposa mas eu nesse triângulo não me meto, que não tenho jeito para hipotenusa). Cartas de amor com receitas culinárias, só mesmo de um homem apaixonado!
E agora temos um problema sério. Diria mesmo, seríssimo. Na receita que por aí se afirma ser a que consta do livro de memórias da extremada esposa de Wellington, substituiu-se o arroz por massa capote. Sabendo nós que o arroz se cultiva no baixo Mondego desde os tempos de D. Dinis, só podemos pensar que o general se perdeu na tradução, que isto de beber uma única garrafa de vinho por dia, depois de correr 50 metros, pode cair mal na fraqueza de um homem. Entre o sotaque figueirense da cozinheira, o latim do pároco e a caligrafia do general, alguma coisa deve ter acontecido que explique a heresia. Servir massa em Portugal no início do século XIX, quando se vivia rodeado de arroz, parece-me estranho, mas talvez a presença do pároco explique o luxo, ou a confusão.
A canja de galinha é, comprovadamente, milagrosa e cura qualquer doença menos a estupidez dos políticos que nos meteram nesta crise. Para constipações, diarreias e recuperação de parturientes não há melhor. Receitas há muitas mas, como estamos a poucos dias de comemorar o desembarque de Arthur Wellesley (8 de Agosto), deixo-vos a que serviram ao enjoado general irlandês:
Cozem-se numa panela com água, uma galinha do campo, orelha de porco salgada, pé de porco, chouriço velho, chouriço novo, toucinho salgado e toucinho fresco. Na mesma água da cozedura, tiradas as carnes, abre-se então a massa (ou o arroz) e junta-se hortaliça e cebola. Serve-se com um pouco de hortelã conforme o gosto, tudo misturado ou com as carnes à parte. Vinho tinto a acompanhar (não abusar que o general é abstémio) e como sobremesa: laranjas, como ofereceram ao duque de Wellington, ou não fosse o vale de Mondego, terra de citrinos, outra chinesice como a canja.

Bom apetite.
P.S.: eu gosto de massinha na canja.

Receita roubada daqui:
http://www.gastronomias.com/receitas/rec0262.htm


segunda-feira, 6 de julho de 2015

SILOGISMOS GREGOS




Numa Ágora onde não esteve presente a coragem para rupturas, Atenas venceu Esparta. Esqueceu, porém, que só um espartano disposto a morrer pôde conter o avanço dos persas nas Termópilas. Entretanto Pirro faz escola.



sexta-feira, 3 de julho de 2015

FALAR DA GRÉCIA


Pediram-me para falar da Grécia. Que sei eu de finanças e de economia para falar da Grécia? Lembrei-me de Saramago, que era um excelente escritor (ganhou um Nobel), mas um péssimo leitor: disse que a Bíblia era um manual de maus costumes. Ou Saramago não leu a Bíblia ou não soube lê-la. Ora vejam se o falar da Grécia não seria um pouco diferente se lêssemos o que diz este pequeno trecho do capítulo 15 do livro do Deuteronómio. Bem sei que o Antigo Testamento, ao contrário do Novo, não foi escrito em grego, mas serve:

Deuteronómio, capítulo15: Ano do perdão das dívidas 1«De sete em sete anos, cumprirás a lei do perdão das dívidas. 2Eis a explicação deste perdão: nenhum credor poderá exigir o empréstimo que tiver feito ao seu próximo. Não exercerá contra o seu próximo e contra o seu irmão violência alguma, quando for anunciada a remissão em honra do SENHOR. 3Ao estrangeiro poderás exigir, mas quanto às dívidas do teu irmão farás a remissão.
4Em verdade, não deve haver pobres entre vós, porque o SENHOR te abençoará na terra que Ele próprio te há-de dar em herança para a possuíres; 5mas só se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, para guardares e cumprires todos estes preceitos que eu hoje te ordeno. 6Então o SENHOR, teu Deus, te abençoará como prometeu: poderás emprestar a muitos povos, mas não terás necessidade de pedir emprestado; dominarás muitos povos, mas eles não te dominarão.
7Se houver junto de ti um indigente entre os teus irmãos, numa das tuas cidades, na terra que o SENHOR, teu Deus, te há-de dar, não endurecerás o teu coração e não fecharás a tua mão ao irmão necessitado. 8Abre-lhe a tua mão, empresta-lhe sob penhor, de acordo com a sua necessidade, aquilo que lhe faltar. 9Guarda-te de alimentar no teu coração um pensamento perverso, dizendo: ‘O sétimo ano, o ano do perdão das dívidas, está próximo’, recusando-te sem piedade a socorrer o teu irmão necessitado. Ele clamaria ao SENHOR contra ti, e aquilo tornar-se-ia para ti um pecado.

Afinal falei do Saramago e da Bíblia. Falo agora da tropa. Quando lá andei ensinaram-me que ou chegamos todos juntos, ou não chega nenhum. Não se deixam os companheiros pelo caminho e não se diz: eram 19, ficam 18!
Falei da Grécia? Talvez!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

GALINÁCEOS, CASAMENTOS E DIÓGENES

É sabida a preocupação da filosofia em definir o que é o Homem. Platão afirmava que era um bípede implume (isto porque nunca assistiu a um gay pride). Famosa ficou também a resposta de Diógenes que lhe atirou uma galinha depenada para dentro da academia depois de gritar: “Eis o homem de Platão!” Mais tarde foi a vez de Aristóteles colocar a célebre questão de quem teria nascido primeiro: se o ovo se a galinha. E foi assim que os galináceos passaram a povoar a nossa forma de pensar (ou não pensar). É ver o pessoal todo a pôr likes em tudo o que é aforismo de algibeira, como bagos de milho atirado, e ninguém se atreve a nadar contracorrente com medo de ser apelidado de fóbico de alguma coisa, porque o homem é galináceo, não é truta.
Agora foi o facebook que se engalanou de arco íris e é ver os meus amigos de todas as cores. Como Aristóteles, têm uma preocupação em arrumar tudo muito direitinho nas gavetas apropriadas, porque isso lhes confere respeitabilidade. E assim, tudo arrumadinho, homossexuais para um lado, héteros para o outro, não há confusão possível não vá o diabo tecê-las e chamarem-me nomes de que não gosto, como se o Homem não fosse macho e fêmea com possibilidade infinitas de procurar e encontrar prazer, uns dias comendo figos e outros dias bananas. Nada de confusões. A respeitabilidade é linda e ficou tudo encantado porque o Supremo Tribunal do Estado mais poderoso do mundo disse: sim senhor, os homens e as mulheres podem casar. Quer dizer, uns com os outros. Que raio, estou a fazer uma confusão dos diabos: Os homens com os homens, as mulheres com as mulheres, como já faziam (já quase não fazem) os homens com as mulheres e vice-versa. Tudo arrumadinho e respeitável que é para não andarem para aí a fazerem porcarias uns com os outros às molhadas. Dizem que foi pelo direito à felicidade. E eu a pensar que o homem e a mulher se casavam porque preferiam ser infelizes acompanhados, que felizes solitários. Mas pronto, pode ser que tenham encontrado a fórmula com a bênção do Estado que passa a conferir carta de alforria aos afectos de cada um. Mas lá dizia o meu amigo Diógenes, outro grego, o da galinha depenada, lembram-se? “Idade para casar? Nunca quando ainda se é jovem, nunca quando se já é velho”.
Dizem que é para imitar os gregos (está na moda) que a sabiam toda. Mas os homens gregos, tirando o caso de Aristóteles que tinha obsessão por gavetas, casavam com mulheres gregas para lhes fazerem os filhos, e iam para o deboche com os outros homens, e nunca lhes passou pela cabeça estragar tal felicidade com essa coisa de papel passado. Mas os gregos não tinham vergonha da sua ambivalência, como agora que se quer tudo arrumadinho no seu canto.
Sossegaram os meus amigos que gostam de futebol, homens suados a correr, mostrando os músculos bem definidos, tudo nu nos balneários, uma festa, e assim disfarçam o que não se pode confessar e podem pôr o arco-íris à vontade porque são muito machos e agora, com isto do casamento, já não há perigo de confusões. Têm orgulho de ter amigos gays, como amigos negros (e eu fico sem saber o que dizer, porque nunca olho para a cor dos amigos e muito menos para o sexo). E quem não gosta é homofóbico e assim toca a pôr um like que é para não me chamarem nomes, e lá vão os galináceos todos contentes com a raposa a guiar-lhes o caminho.
Vai um tipo muito sossegado, com o amigo de infância, depois de um jogo em que o Benfica ganhou, bebem umas bejecas, o gajedo desaparece, porque estão bêbados, e de manhã acordam um ao lado do outro. Antigamente desculpavam-se com os copos, não se fala mais nisso, não dei por nada, não faço ideia do que aconteceu, olha não sei como foi contigo, mas eu não achei piada nenhuma… Agora, diz um para o outro: tens de divorciar-te da Maria e casamos… fosga-se! Dizem que é pela felicidade?! Tá tudo doido.
Mas pronto, casa-se tudo que brincar sozinho é que não vale que é uma grande porcaria que só o Diógenes (lá está ele de novo) é que o fazia para depois dizer: “quem me dera poder saciar também a fome esfregando apenas a barriga!”
            Sejam felizes.


sábado, 20 de junho de 2015

A PINTA DOS POLÍTICOS, E O QUE LHES FALTA


Ouvi há dias na televisão o Dr. João Soares afirmar que os líderes da Grécia, ministro das finanças e primeiro ministro, eram “tipos com muito boa pinta”, pelo que não percebia porque raio os líderes europeus e o FMI, que, ao contrário, têm tão má pinta (como afirmou), não lhes faziam a vontade. Ouvindo tão preclaras interrogações do Dr. Soares (jr.) julguei perceber a razão por que Cristina Lagarde gasta tanto dinheiro nos trapos e nas joias que usa: esconder a má pinta que tem. Lamentamos todos, nós e os gregos, que a Srª FMI não partilhe do gosto estético do João e não se renda à boa pinta do Varoufakis. Outros gostos…!

Sabemos todos que os nossos políticos andam preocupados com a desertificação do país, não só pela fuga dos jovens, mas também pelos baixos índices de natalidade. No meio de uma reunião em que esta preocupação se discutia, ouvi um autarca afirmar que na sua terra ainda não se sentia essa falta de crianças ao contrário do que se passava noutras terras da região. Achava ele que isso se devia ao facto de os seus conterrâneos irem pouco à missa, não perdendo assim o tempo precioso para fazer filhos.
Afinal é tudo culpa dos gregos que inventaram Chronos, pensei eu com os meus botões, e dei por mim a lembrar a pobre rainha Maria II, que entre a missa diária, as tricas com o Saldanha, as revoltas da Maria da Fonte e Patuleias, a educação dos filhos, as idas à tourada e o incêndio do palácio de Barcelos, conseguiu, no espaço de vinte anos, parir onze filhos enquanto punha o país na ordem. A dificuldade dos seus partos e a obesidade que lhe arruinava o coração e lhe estragava a pinta, obrigou os médicos a aconselhar repouso. A rainha respondia-lhes que se morresse, morria no seu posto (morreu de parto), deixando-nos a todos intrigados se posto significava o trono ou os lençóis, e com suspeitas sobre as causas do incêndio do palácio de Barcelos onde ela e o rei consorte… dormiam.
Maria II tinha o que não têm os políticos de agora. Foi uma excelente negociadora que conseguiu pôr ordem numa casa que encontrou de pantanas, e fez filhos. Percebi assim que, ao contrário do que aquele eminente autarca e os médicos pensam, fazer filhos não é uma questão de tempo, tal como a boa pinta nada tem a ver com finanças e negociações, como julga o Dr. João Soares… É tudo uma questão de tesão! Que não faltando ao povo falta aos políticos que não conseguem criar condições de esperança.


(para os sensíveis: tesão; do latim tensio que significa rijeza)


Imagem (peço desculpa pela má qualidade): imperador Carlos Magno, pai da Europa e de vinte filhos conhecidos. Ia à missa e obrigou os alemães a fazer o mesmo.