terça-feira, 9 de agosto de 2016

O QUE PENSAM OS MORTOS?


Talvez não erre se disser que até ao aparecimento da besta, ou balestra, a guerra fazia-se à custa da força, perícia e destreza dos soldados que nela participavam.
Vem isto a propósito por estar a escrever no dia em que se comemora mais um aniversário do lançamento da bomba atómica sobre Nagasaki. Os que defendem que o uso das bombas atómicas no Japão evitou maior número de mortos, argumentam que os japoneses jamais se renderiam em caso de uma invasão terrestre. Os que argumentam em sentido contrário dizem, e entre eles nomes sonantes do aparelho militar americano como Eisenhower, que o Japão estava derrotado e render-se-ia se lhe dessem a oportunidade de salvar a face. Os termos em que foi escrito o ultimato de Potsdam indicava a incondicionalidade da rendição, excluindo, portanto, o Imperador. Depois das bombas a rendição deu-se condicionada à manutenção do Imperador, o que reforça o argumento dos que vêm na inépcia do texto de Potsdam a causa da não rendição do Japão, tornando desnecessária, inútil e cruel, o lançamento das bombas.
Há que referir, no entanto, uma questão que nunca é lembrada nestas ocasiões e que poucos conhecem, e que é referida como argumento a favor do lançamento sobre Hiroxima e Nagasaki: o bombardeamento “convencional” de Tóquio meses antes das bombas atómicas, e cujos danos materiais e humanos foram superiores ao das bombas atómicas. Então porque razão as bombas atómicas nos deixam com um repúdio generalizado?
Voltando às bestas, saiba-se que a Igreja, logo no século XII, proibiu o seu uso em guerras entre exércitos cristãos, ordem que, à semelhança da pílula e do preservativo, foi alegremente desobedecida e ignorada por todos. Que se matassem uns aos outros, tudo bem, mas sem aquela arma terrífica, queria a Igreja. E porque era terrífica? Julgo que o problema é o mesmo do das bombas atómicas. A sua grande eficiência. Uma grande eficácia com poucos recursos. O combate feito à custa da força dos soldados parece legitimo. Feito à custa de recursos além da força muscular parece coisa do demónio. Se o argumento valia para o uso das bestas, para o confronto entre bombas atómicas e bombas incendiárias não vale. É só uma questão de custos financeiros.
Em todo o caso, julgo que o vaticínio de Einstein se cumprirá e a força física vingará: a 4ª guerra mundial será feita com pedras e paus!
O que pensarão os mortos?

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