domingo, 17 de dezembro de 2017

OS BRINCOS DE NOSSA SENHORA


Na magnífica e bela igreja de S. Pedro em Peniche fizeram um presépio, mimoso e ingénuo, como devem ser os presépios, e onde os anjinhos aparecem com a foto do rosto dos meninos que o fizeram. Está lindo, mas causou algum “escândalo”. É claro que a palavra é exagerada, e se a utilizo é porque me lembrei das aventuras dos três mosqueteiros e do D’Artagnan que tinham por missão fazer com que a rainha de França aparecesse no baile com as jóias que imprudentemente tinha oferecido a um amigo. Se na corte francesa o facto de a rainha aparecer sem as jóias era um escândalo, num presépio, Nossa Senhora aparecer de brincos e colar causou, se não escândalo, desagrado de algumas senhoras que ali se encontravam para ouvir os coros cantarem loas ao Deus menino e a Nossa Senhora. - Que não, Nossa Senhora não usava brincos e muito menos colares, dizia uma. - Uma modernice, dizia outra, acrescentando que naquele tempo não havia brincos!
Sem querer entrar na polémica que opôs Manuel de Oliveira a Agustina Bessa Luís, sobre a riqueza de Nossa Senhora, tendo Agustina, mulher de luxos e bom gosto, a defender que sim, Nossa Senhora era rica e demonstrava-o, sempre vou afirmando às amáveis senhoras que estranharam os brincos, que já nos tempos das cavernas, as mulheres, e os homens, já agora, usavam brincos e colares, pelo que está longe de ser uma modernice. Nossa Senhora, nascida no seio de uma família de judeus, em terra ocupada por romanos, usaria de certeza brincos e colares como as mulheres da sua tribo, do mesmo modo que cobria a cabeça com o véu. De outro modo é que seria estranho.
Para provar o que digo, socorro-me do maravilhoso poema inscrito na Bíblia: O Cântico dos cânticos, escrito quase mil anos antes de Nossa Senhora nascer, e onde os Padres da Igreja vêm na mulher do poema, a alegoria da Igreja, amada por Cristo, e que tem Nossa Senhora como padroeira suprema:
A uma égua entre os carros do Faraó
eu te comparo, ó minha amiga.
Formosas são as tuas faces entre os brincos,
e o teu pescoço com os colares!
Para ti faremos arrecadas de ouro
com incrustações de prata.  (Ct 1, 9-11)

Parabéns, pois, a quem fez o presépio da Igreja paroquial de Peniche, enchendo-o com a beleza de Nossa Senhora entre brincos e colares (O José também estava bonito com ar jovem, e o menino com frio só de cueirinhos vestido).

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